Relação Emprego e Caged

Por Gilmar Rotta | 03/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Considerando a geração de empregos como desafio há anos imposto às gestões públicas, sabemos que a busca por referências capazes de monitorar sua evolução é de fundamental importância.
O instrumento primordial para avaliar a dinâmica completa de empregos no país, em tempo hábil para diagnósticos, aplicado pelo IBGE e coletado através da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), é capaz de indicar um bom panorama, mas, muito restrito às grandes cidades (normalmente capitais de Estado). Para os demais municípios a informação completa chega sob tamanha defasagem de tempo que inviabiliza a análise.
Sobra para acompanhamento da imensa maioria das cidades o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), mantido pelo Ministério do Trabalho, que, com rapidez, registra toda movimentação de emprego e desemprego, aberta por município e por setor de atividade, mas com a grave desvantagem de tratar apenas do emprego formal, aquele conhecido como “registrado”.
Dados econômicos já apontam que a maior parte das ocupações no Brasil não mais se enquadra no trabalho formal, deixando assim de captar movimentações em grandes segmentos, como o motorista de aplicativo que não viu mais viabilidade na atividade econômica, a costureira do bairro que percebeu acabar a demanda, ou mesmo nas situações favoráveis inversas, para citar algumas possibilidades.
Outro ponto sensível para um referencial tão necessário é que o Cadastro Oficial se fragiliza pela possibilidade de inserção de dados retroativos (de admissão ou de demissão) a qualquer tempo, prejudicando análises de séries históricas. Também, há críticas generalizadas de especialistas quanto a mudança metodológica sofrida a partir de 2020, que afeta comparações com cenários até 2019.
Diante de tamanhas desconfianças, o Caged aponta que o Brasil gerou 2.730.597 postos formais de trabalho em 2021, quando comparado ao saldo deixado no ano de 2020, cabendo a importante observação de se tratar de uma base de comparação muito frágil, marcada pelo auge do desemprego na pandemia.
Se tomarmos como exemplo a nossa Piracicaba, o Cadastro demonstra a criação de 7.348 postos em 2021, corrigindo com muita folga a soma dos anos de 2019 e 2020, que juntos teriam encerrados mil vagas. Friamente analisando, os números dizem que a cidade “bombou” de gerar empregos.
Porém, ao compararmos um registro numérico tão impressionante aos nítidos cenários de elevação da vulnerabilidade social e de procura por algum tipo de colocação remunerada, entendo como perfeitamente necessário o questionamento quanto a aderência do Caged à realidade.
Convém considerar que um salto tão grande quanto o relatado na oferta de vagas necessariamente implicaria, por questões econômicas, no aumento do rendimento, mas, por contradição, o próprio Ministério do Trabalho registra uma retração da renda média do trabalho no país, da ordem de 4%, em 2021.
De acordo com a máxima de que “não se combate o que não se conhece”, considero de suma importância que os municípios tenham acesso a bases mais apropriadas às realidades locais para monitoramento da evolução de dados do emprego e balizamento de ações.
Assim, pela importância de pensar numa alternativa de maior eficiência, já iniciamos estudos e debates no âmbito regional do Parlamento Metropolitano de Piracicaba.

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