A águia

Por José Faganello | 02/02/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A águia, ave de rapina possuidora de visão aguçada e rapidez fantástica, graças à velocidade de seu vôo, ao escolher uma vítima, dificilmente ela escapa. Por este motivo foi escolhida como símbolo de países ou grupos que se consideram predestinados a uma missão, usando da força, se encontrarem resistência. Assim tivemos a águia romana, a napoleônica, a nazista e agora a americana.
Roma, simples cidade, demonstrou, desde sua fundação, vocação para a guerra. O lugar em que foi erguida era delimitado por sete colinas, importantes obstáculos, na época, para qualquer atacante. Aos poucos, conquistou os territórios vizinhos, até apossar-se de toda a península itálica. Os povos submetidos pagavam-lhe tributos. Eles, embora admirando sua inegável eficiência, odiavam-na como rapinante insuportável. Aliás, o símbolo levado pelas coortes das legiões romanas era a águia.
Ao conquistar a península itálica, para não se deter apenas ali, necessitava de muitos mais soldados e a garantia de não ter inimigos em sua retaguarda ou vizinhança. Para isto estendeu o direito de cidadania a todos os habitantes da península. Honrados com a deferência, os peninsulares, que antes pagavam tributos como conquistados, passaram a pagá-los como cidadãos romanos e com a obrigação de serviço militar, não como aliados, sim como patriotas…
Roma conquistou imenso império. Seu alvo foi povos capazes de lhe pagarem tributos. Os nômades ou seminômades – bárbaros, eram mantidos fora de suas fronteiras.
Com Otávio Augusto, teve um longo período de paz – Pax Romana. Paz imposta por uma força militar amedrontadora. Os germanos, no entanto, quebraram esta paz dizimando três legiões comandadas por Varro. Era um prenúncio do que iria acontecer quatro séculos depois – a destruição do Império Romano pelos bárbaros.
Roma arvorava-se como defensora do bem, da organização, da cultura, do direito. Para ela os contestadores eram o mal, o inimigo, os dignos de serem arrasados, escravizados.
Depararmo-nos hoje com um panorama semelhante. Os EUA apresentam-se como líder no combate ao mal. Seu domínio econômico e supremacia militar estão sofrendo confrontos. A maioria que contesta esta situação, mais abertamente, é de países periféricos. Pobres – os novos bárbaros, ou seja, a maior parte da população mundial.
O imperialismo, antes exercido através das armas, atualmente é pelo econômico. Quem não se atrela a ele e segue servilmente suas regras fica marginalizado, não recebe as migalhas oferecidas aos servos,são aqueles que, aceitam ser esta a alternativa inevitável.
A acintosa riqueza de poucos, diante da degradação de muitos, provocará sempre reações. Outros impérios, além do romano, aparentemente inexpugnáveis, ruíram. Assim foi com o Império Bizantino, o Otomano, o Napoleônico e o Britânico.
Enquanto houver quem defenda o direito de impor regras, normas de conduta, tendo como balizamento o poder econômico haverá outros se intitulando defensores dos oprimidos, dos pobres, dos marginalizados; guerreiros contra o grande satã, que irão como mártires, morrer contentes em holocausto, desde que causem o maior número de baixas e o maior prejuízo ao sistema inimigo. Tertuliano comentou que o sangue dos cristãos mártires era sementeira para novos cristãos, desta vez não será diferente.
Roma, Bizâncio, Turquia, Napoleão e a Inglaterra acreditavam-se capazes de, pelo terror, eliminarem seus opositores. Estes responderam com mais terror ainda. Foram longas lutas, sempre com sacrifícios de incontáveis inocentes e a derrota final dos opressores. Estes se diziam defensores do bem, aqueles inimigos do mal…
Assim com a queda de Roma marcou o fim de uma era, a derrubada do World Trade Center sinaliza o início de outra. Será que conseguiremos exterminar com a mesquinhez, a arrogância, a insaciável avidez, o inconcebível preconceito ou assistiremos a um século em que os pais terão que enterrar seus filhos pela crueldade dos dois lados em guerra, ambos convictos que defendem o bem e devem aniquilar o mal a qualquer custo?

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