Encontramo-nos tão longe de compreender o valor, o poder e o uso correto das palavras que habitualmente falamos de modo excessivo, irrefletido, inconsequente e irresponsável. Não fosse assim, o mundo e as relações humanas seriam muito diversos do que são.
Palavras são valiosos veículos de comunicação, seja escrita ou oral, e tão ou mais importante do que aquilo que se diz é a intenção que se tem ao se comunicar. Em certas circunstâncias elas podem ser impotentes para exprimir sentimentos profundos; inoportunas, quando destroem um precioso silêncio; impróprias, ao tentarem substituir um olhar afetuoso, um sorriso compassivo, uma presença plena; agressivas, quando ferem mais que muitas armas; inadequadas, quando pretendem por-se no lugar de mãos prestativas. Enfim, as palavras podem ser tão necessárias quanto supérfluas, preciosas ou inconvenientes, construtivas como destruidoras.
Toda e qualquer palavra possui, além do seu significado habitual, as energias que carrega. Cada vez que utilizada, mobiliza certas forças e irradia-se a quem se destina. Há milênios é sabido, originalmente no Oriente, o valor das palavras e a importância de se escolher cuidadosamente o que se diz, a fim de que se possa utilizar desse recurso de comunicação como ferramente de educação e cura.
As palavras podem ser desvirtuadas e utilizadas com fins escusos, o que infelizmente ocorre com enorme frequência na comunicação cotidiana, sobretudo nas redes sociais. Dadas a facilidade, rapidez e abrangência com que se pode expressar qualquer ideia, ao lado do aparente anonimato que parece encobrir e proteger quem se comunica, além da ansiedade com que se deseja expressar, não se tem suficiente tempo nem espaço interior para a reflexão acerca do que se pretende veicular, nem sobre as consequências do que se divulga. Cai-se num automatismo de receber, responder e compartilhar qualquer assunto, sem a necessária consciência do que se faz.
Na jornada existencial, aqueles que, através de um mergulho interior, alcançam uma comunhão com níveis mais profundos de si e da vida, entram em um estado de ser que se encontra além das dimensões materiais, do pensar e do falar. Desses níveis profundos emergem a intuição, a criatividade, a sabedoria e o amor, os quais, ao se expressarem no plano físico, materializam-se como palavras e ações, sempre benéficas e saudáveis.
Exemplo do valor da palavra escrita são as instruções espirituais ofertadas à humanidade, as quais, apesar da impossibilidade do convívio pessoal com os instrutores que as veicularam (já que viveram nos mais diversos locais e épocas), imortalizaram-se graças às anotações de seus seguidores, permitindo que até hoje possamos usufruir de seu conteúdo, aprender e obter alimento anímico.
A fim de que possamos utilizar plenamente os potenciais da palavra precisamos realizar um processo interior de educação e purificação, libertando-nos do que ainda carregamos de mentira, hipocrisia, ignorância e maledicência, dentre tantos aspectos menos nobres dos quais precisamos nos desvencilhar, a fim de que o falar expresse o melhor de nós.
Nesse processo o autoconhecimento torna-se fundamental para que superemos a dicotomia em que ainda vivemos com relação ao uso da palavra, seja entre a facilidade de falar e a dificuldade de fazer, entre prometer e cumprir, entre criticar e dar o exemplo fazendo melhor, entre desejar convencer e saber calar, enfim, aprendendo o que, quando e como falar, em benefício de todos.
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