A beleza

Por José Faganello | 19/01/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Tomás de Aquino o grande filósofo da Baixa Idade Média define o belo como: “o que agrada ver”.
A percepção da beleza, portanto, supõe um juízo que é produto da inteligência.
O belo é deleitável: gera o desejo, amor, encanta. É fonte de satisfação constantemente revigorada.
Este deleite, esta satisfação renovada, no entanto, vêm de condições subjetivas. E, por este motivo, há o refrão popular: “Quem ama o feio, belo lhe parece”.
Segundo os filósofos, o belo é gratuito no sentido de que não tem, como tal, um fim útil. A obra artística tem como finalidade proporcionar a satisfação estética. A beleza por ela produzida pede respeito e veneração. Aliás, as coisas belas costumam provocar espanto e respeito. O homem se sente subjugado pela beleza e reverencia nela sua força espiritual. A verdadeira beleza consegue fazer vibrar todos em uníssono.
Muito foi escrito sobre o belo e a beleza. Como qualquer outro assunto provoca avaliações contraditórias. Porque em cada cabeça há uma sentença, em se tratando do assunto belo e beleza, não poderia ser diferente.
Para exemplificar podemos começar com o deboche com classe de Millor Fernandes: “Beleza? Mas tem beleza demais, no mundo. Sons maravilhosos, odores indescritíveis, gostos inimagináveis, visões inenarráveis. Beleza em contato, em crenças, em pensamentos, em construções, em imaginação. Há mais beleza entre o céu e a Terra do que pode sonhar, ou consumir, nossa filosofia. Agora, pro morto de fome, só tem mesmo uma coisa bonita – a figura dourada, sexy de um franguinho girando no espeto”. Ainda Millor, em sua filosofia de alcova: “A estética súbita de uma flor, de uma folha, a tranqüila emoção da luz do amanhecer, o esplendor de qualquer coisa ou de alguma coisa, não são um projeto, não têm um objetivo, não almejam o futuro ou a eternidade. Beleza (plenitude) é hiperqualidade natural, fim em si mesmo, supérfluo exibido e usufruído, sem quê e para quê. Nem pensar em utilidade, queridinha. O que eu fiz eu fiz porque sou mesmo assim, não tem que agradecer. Agora vira para lá e dorme”.
Há como Shakespeare quem conseguiu versejar com maestria, em variados enfoques: “Oh! ela ensina as luzes a brilhar” (Romeu e Julieta, Ato I); “Essa beleza bem mesclada, em que mão doce e sábia / Da natureza juntou o carmim e o branco; / Senhora, sereis a mais cruel das mulheres, / se levardes à sepultura todas essas graças/ sem deixar ao mundo uma cópia”. (Noite de Reis, Ato I).
Há os enaltecedores da beleza: “Uma coisa bela é uma alegria para sempre; / Seu encanto só faz crescer; nunca / Ela se reduzirá a nada” (Keats). “Não tens corpo, nem pátria, nem família, / nem te curvas ao jogo dos tiranos. / Não tens preço na terra dos humanos, / Nem o tempo te rói. / És a essência dos anos, / o que vem e o que foi”. (Miguel Torga).
“Nada, no mundo, é, por si mesmo feio. / Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema, / Palpita sempre neles o divino anseio / Da beleza suprema”….( Mário Quintana).
Finalmente podemos enfocar os pessimistas: “Lembra-te de que as mais belas coisas do mundo são as mais inúteis; por exemplo, pavões e lírios” ( Ruskin). “O poder pelo qual uma mulher encanta o amante e aterroriza o marido” ( Ambroise Bierce, em Dicionários do Diabo).
Estar com o belo, viver ao lado da beleza é o anseio de todos e todos, sem dúvida, gostariam de tê-la ao seu lado até o fim da vida, desejando exclamar como John Masefield: “Fique comigo, beleza, porque o fogo está morrendo.

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