Depois de bater um papo informal com uma colega psicóloga sobre assuntos ligados à culinária e sua importância no corpo e no emocional de uma pessoa, achei interessante publicar um texto da jornalista Silvia Moraes que eu distribuía aos meus pacientes alguns anos atrás. Acompanhem:
“Quem nunca ouviu ou sentiu na pele o peso da expressão ‘engolir sapo?’ Quase regra para a convivência pacífica, somos habituados a dizer sim mesmo a contragosto. Em casa, no trabalho e até nas rodas de amigos na hora de escolher que programa fazer. O que poucos se dão conta é que esses pequenos ‘sapos’ podem ser bem calóricos. É que levar desaforo para casa, fazer concessões além da conta e acumular raiva são atitudes que levam à obesidade.
De acordo com o psicólogo clínico Marco Antônio de Tommaso, fatores genéticos ou biológicos estão relacionados em menor incidência nos casos de obesidade. Conclusão: a maioria tem ligação com fatores psicológicos. Na obesidade 'reativa', o indivíduo passa a ingerir mais alimentos, conseqüentemente ganhando mais peso, geralmente como reação a eventos da vida carregados de um grande teor psicológico (emocional), que acabam atuando como fator desencadeante da obesidade, afirma a psicóloga Camila Mareze Mendonça.
Para comprovar essa teoria, pesquisa realizada pela Universidade do Texas com adolescentes entre 14 e 17 anos constatou que atitudes como aceitar desaforos, por exemplo, contribuem para a obesidade. ‘Os sentimentos de impotência provocam raiva, que nos leva a comer, que por sua vez engorda e engordar provoca sentimentos de culpa. É um verdadeiro círculo vicioso’, destaca Camila.
O psiquiatra Adriano Segal confirma que o stress desencadeia uma série de alterações bioquímicas que levam o indivíduo a exagerar no tamanho do prato. A mais perigosa delas é a deposição de gordura no abdômen, que pode causar doenças cardiovasculares, aumento da produção do cortisol - que estimula o centro da fome do hipotálamo - e diminuição dos níveis de serotonina no cérebro, que entre outras funções controla a saciedade. O resultado disso pode ser a corrida até a geladeira.
A relação entre raiva e comida começa cedo. Quando os bebês choram, o peito da mãe, ou seja, a comida é a solução. ‘O alimento é o primeiro ansiolítico e o primeiro antidepressivo que utilizamos’, define Tommaso. Inconscientemente, essa relação permanece na vida adulta, já que somos culturalmente condicionados a ‘engolir’ o choro, a raiva e o que mais se manifeste. ‘Reprimir a emoção, deixa o corpo em estado de alerta constante’.
E como saber se o ataque à geladeira é fome ou uma forma de lidar com a raiva? É importante ver a frequência que isso ocorre, e se o indivíduo sente-se desconfortável por estar exagerando na comida. Se a dieta e exercícios físicos não estão adiantando, é hora de procurar o psicólogo.
Uma atitude mais assertiva diante das situações cotidianas, pode ajudar a lidar melhor com a raiva e amenizar os efeitos que ela traz. Isso significa aprender a dizer não, e expor a opinião, independentemente do que os outros pensem (ou sintam). A assertividade é uma habilidade que pode ser exercitada. O posicionamento assertivo oferece novas formas de expressão de sentimentos, que outrora iam para a comida.
É preciso haver um equilíbrio. As atitudes ‘8 ou 80’ são mais fáceis: ou engole a raiva ou explode. Mas, o ideal é se habituar a encontrar uma manifestação adequada entre as diversas possibilidades de expressão".
LEIA MAIS