Entre dois mundos

Por André Sallum | 24/12/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A existência se apresenta para todos sob múltiplos aspectos, e vivemos simultaneamente em diversas dimensões, focalizando preferencialmente onde a atenção e o interesse nos atraiam mais fortemente.
Sabemos e sentimos que, paralelamente à existência material, objetiva, desdobra-se outra, subjetiva e sutil. Essas dimensões coexistem e, de acordo com o despertar da consciência, durante o processo evolutivo, o mundo interno vai sendo percebido cada vez com maior clareza, modificando a própria interpretação de fatos e circunstâncias. Portanto, a transformação interior muda a percepção da realidade externa e o modo como se lida com ela.
Expressão das diferentes dimensões em que se vive é qualquer atividade criativa, durante a qual a pessoa se encontra inspirada por forças internas que transbordam e se manifestam exteriormente nas suas obras. Para produzir algo, o indivíduo sintoniza com energias criadoras, assimila seu conteúdo, filtra-as e permite que fluam, manifestando-as com suas características pessoais e únicas. A imaginação, parte de qualquer processo criativo, faz com que o indivíduo, ao visualizar algo, crie uma nova realidade, da qual participa e à qual fica ligado. Daí a importância da atenção e vigilância quanto àquilo que se imagina, a fim de se criar o que for belo, útil e favorável à evolução, e não simplesmente se prender a modismos nem apenas reproduzir e alimentar padrões degradados e degradantes, os quais servem a interesses escusos.
Independentemente de qualquer busca de natureza espiritual, é inevitável e necessário o contato com os aspectos exteriores da vida, os cuidados com o corpo, o trabalho, o convívio familiar e social, como parte da indispensável experiência na matéria. A sabedoria pede o equilíbrio entre a vida externa e o mundo interior, entre os estímulos exteriores e os de natureza íntima, profunda. Se prestarmos excessiva atenção ao mundo exterior e dermos demasiada importância aos fatos e fenômenos materiais, poderemos nos iludir com as aparências, nos apegar a elas, restringir e distorcer nossa percepção e capacidade de agir. Por outro lado, caso mergulhemos excessivamente no mundo subjetivo, tenderemos a divagar em fantasias e fugir da realidade objetiva, perdendo valiosas oportunidades de agir construtivamente no mundo físico.
Além da matéria e da mente, existe uma dimensão da vida mais profunda: a da essência divina, cuja descoberta e plena manifestação constituem o objetivo de todos os caminhos espirituais e religiosos. Quando se toma consciência desse nível e se permite que permeie e ilumine as demais áreas da vida, se possibilita um novo modo de viver, sintonizado com a Fonte da vida que habita em todos. Essa percepção profunda favorece a harmonia necessária às atividades em todos os níveis do existir, inclusive nas tarefas externas e atividades do cotidiano, as quais assumem outro sentido e qualidade.
Viver entre dois mundos e saber equilibrar as experiências internas com os estímulos exteriores; conviver com nós mesmos e com os outros; escutar o mundo de fora sem esquecer de ouvir a voz da consciência e da inspiração que nos falam no silêncio interior; transitar entre as paisagens do mundo físico e as imagens mentais que criamos incessantemente; cuidar dos afazeres externos lembrando que estamos na matéria para cumprir propósitos de natureza espiritual e evolutiva, a caminho da plenitude: eis o desafio que se apresenta a todos nós durante a jornada existencial.

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