Joio e trigo

Por André Sallum | 17/12/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A parábola do joio e do trigo, relatada no Evangelho de Mateus, traz valioso conteúdo à reflexão. Como as demais contadas por Jesus, serve de advertência e oferece elementos para um viver responsável e consciente.
O trigo e o joio, dentre muitas interpretações possíveis, representam nossas luzes e sombras, virtudes e vícios, expressos em nosso pensar, sentir e agir. Nascem e se desenvolvem, a princípio de modo imperceptível, até se manifestarem mais ostensivamente e se tornarem parte de nossa personalidade e modo de viver. Nossa existência é, simbolicamente, uma sucessão de semeadura, cultivo e colheita, por isso a importância da atenção na escolha de boas sementes e do seu cultivo cuidadoso.
Conta a referida parábola que as sementes do joio, simbolizando o mal, foram lançadas enquanto os homens dormiam, ou seja, o mal se infiltrou quando estavam invigilantes, como ocorre conosco, quando distraídos e inconscientes permitimos que se instalem e se enraízem em nosso ser modos de ser destrutivos.
Hábitos e tendências negativos, ao longo da história, têm-se infiltrado e arraigado no comportamento humano, a ponto de serem considerados parte da natureza humana, por mais se mostrem destrutivos e perturbadores. Por isso as instruções espirituais se mostram tão necessárias, desde que sinceramente praticadas, como prevenção e terapêutica, a fim de que não se sufoquem, como fazem as ervas daninhas, as melhores possibilidades de expressão de uma vida sã e plena.
Existem sementes de negatividades que, no início, não temos condições de perceber, as quais, somente quando desenvolvidas, podem ser reconhecidas e eliminadas.
O momento da colheita, no qual são separados o joio e o trigo, encaminhando-se cada um para destino diferente, representa o fechamento de ciclo que periodicamente se apresenta às pessoas individualmente e à humanidade como um todo, conforme ocorre na atualidade planetária. Vivemos uma época em que sementes plantadas em ciclos anteriores amadurecem e se revelam. Por isso o que existe de melhor e de pior na natureza humana tem sido exposto e se manifestado abertamente, exigindo atitudes conscientes no sentido de seleção, escolha e destino do que se apresenta. Outro aspecto que nos parece importante é que muitos acontecimentos atuais não dependem apenas das decisões e ações humanas, pois são o efeito de forças desencadeadas anteriormente e que não podem mais ser modificadas, ao lado de outras que estão sendo resolvidas independentemente do poder e da vontade humanos. Portanto, diante do cenário atual, cabe-nos perseverar no bem, espalhar as melhores sementes que possuirmos e cultivar o solo da vida cuidadosamente.
As provações atuais, que têm se generalizado, são de certo modo aspectos da profetizada seleção do joio e do trigo, ao mesmo tempo que purificam, despertam a consciência dos que se mostram receptivos e promovem a dissolução do que precisa ser transcendido. Como grande parte das transformações necessárias a um novo mundo estão muito além das possibilidades humanas – embora contem com nossa imprescindível colaboração – parece-nos essencial o fortalecimento da fé, na certeza de que diante das impossibilidades humanas existem forças e seres, os quais, no devido tempo e do melhor modo, em nome e a serviço do Alto, tudo resolvem para o Bem. Essa certeza interior aquieta a mente, asserena o coração e permite que, mesmo diante das mais desafiadoras situações, se prossiga em paz.

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