A Falência

Por José Faganello | 08/12/2021 | Tempo de leitura: 3 min

“A verdade é que a civilização, bem como a liberdade, se não decreta. Só há um único meio de alcançá-la: merecê-la” (Ramalho Ortigão).

O homem desde quando descobriu que era impossível viver isolado, cada um por si, e que agrupar-se era essencial para sobreviver, percebeu, também, que era necessário estabelecer normas, impor regras, para que no grupo não imperasse o caos.
Normas e regras exigem uma autoridade que zele por elas e as faça cumprir.
Os anarquistas, numa maravilhosa utopia, não desprovida de lógica, mas, inaproveitada até hoje, pregavam a ausência total de governo e de partidos políticos. Diziam, com razão, que aquele que se apossa do mando, exerce-o despoticamente, nunca em favor da comunidade e sim dele e de seu grupelho.
Sempre houve, por parte de muitos, a busca de um governo que estabelecesse a ordem, defendesse o grupo, dos inimigos, programasse os esforços numa direção única, enfim, governasse efetivamente.
O primeiro foi o dos reis teocráticos. Enfeixavam em suas mãos, além do poder temporal, o sobrenatural. Este tipo de governo foi uma demonstração inequívoca do caráter humano: sempre procura levar vantagem de modo absoluto. Por sua vez, a história mostra como as massas humanas, embora se constituindo em maioria absoluta, são facilmente manobradas e submetidas à tirania. Aliás, exemplos não faltam de cidadãos saudosos pelos tiranos. É comum, diante do descalabro de nossas autoridades, ouvir-se, com frequência impressionante, pessoas clamando pela ditadura.
Dos reis teocráticos passamos pela “Democracia” Grega, pelo Império Romano, pela Idade Média, pelos reis absolutos e a Revolução Francesa.
Ao analisarmos a história de nosso país, aos olhos dos muitos tipos de governos que nos antecederam, podemos chegar à conclusão de que, após 500 anos, estamos entrando na Idade Média.
Em nossas escolas os alunos aprendem que chamamos de civilização o estado atual de nossos costumes e de barbárie os anteriores a nós.
Com certeza, os costumes atuais serão chamados bárbaros quando tornarem-se costumes passados, mas diante daquilo que estamos assistindo, não há necessidade de esperar nada – nosso comportamento já é de incivilizados e bárbaros.
Segundo Euclides da Cunha, “estamos condenados à civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos”.
Os fatos, até o momento, apontam para o nosso desaparecimento.
Resta ainda um fio de esperança com esta CPI do Narcotráfico. Embora pareça estar sendo alimentada pelos benefícios políticos do sensacionalismo, pela primeira vez alguns peixes grandes estão sendo fisgados. Resta-nos a dúvida se haverá provimento rápido da justiça. Como grande parte da polícia e do poder judiciário são acusados de envolvimento, as pessoas politizadas assistem estarrecidas, a participação dos três poderes da República no crime. É a falência do Estado.
Infelizmente, não se pode esperar que nossa sofrida população, sem instrução, alienada politicamente, sem líderes dignos de confiança, saiba, na hora do voto, o que Winston Churchill disse: “A civilização significa uma sociedade baseada na opinião de civis, portanto a violência, a dominação de guerreiros e de chefes despóticos, as condições de campos opostos e de luta armada, de sedição e tirania cedem lugar a parlamentos em que as leis são feitas e a tribunais de justiça independentes a zelarem para que elas sejam mantidas e obedecidas por longos períodos.
Até agora nossos eleitores não conseguiram escolher candidatos que fizessem juz à descrição acima. Estamos sob um governo ditatorial, que governa por leis feitas através de medidas provisórias, não do parlamento. Este abdicou vergonhosamente de suas funções em troca de favores espúrios, e da impunidade corporativista mantida até o presente momento.
Apenas a ponta do iceberg da corrupção foi detectada. Um país que se mostra incapaz de controlar isto é um Estado falido. Ao diminuto número de verdadeiros cidadãos, não basta ficar aplaudindo os delatores do crime organizado. Está na hora de perceber a importância do voto consciente para a necessária mudança.
Neste momento, em que o Estado Nacional está em perigo devido à globalização, a corrupção generalizada, embora conhecida, mas não em sua total extensão, ameaça nossa precária democracia, ou seja, nosso Estado Nacional, cada vez mais fragilizado, injusto, corrupto e desqualificado.
Nos últimos governos vivemos em um mundo de faz de conta, como era em nossos folguedos de infância.
Continuamos a dizer que é um país do futuro. Desde criança ouço isso. Quando chegará esse futuro?

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