Marighella vive

Por Rubinho Vitti | 20/11/2021 | Tempo de leitura: 3 min

É louvável que mais de 100 mil brasileiros foram aos cinemas na semana de estreia de um filme que escancara os mais de 20 anos da brutal ditadura militar brasileira: Marighella, primeiro longa-metragem de Wagner Moura como diretor.
É uma atitude revolucionária trocar um filme de super-herói da Marvel pela história real de um brasileiro que protagonizou momentos heróicos na história do país.

O grupo de Marighella viu na luta armada a única forma de derrubar o regime militar, que não tinha pudor em assassinar políticos, estudantes, professores e artistas que se opunham a ele. Independente da forma escolhida para fazer a revolução, Marighella buscava liberdade e democracia.
Logo no início do filme, Moura contextualiza os espectadores. Em 1964, o presidente João Goulart é deposto de seu cargo e os militares, com apoio da população, assumiram o poder com a desculpa de que havia uma ameaça comunista. Soa atual para você?

Com a promessa de ser um período breve, a ditadura acabou durando até 1985. Mas é logo nos seus primeiros anos que Marighella inicia sua jornada.
A história do considerado "grande inimigo" do regime militar brasileiro mostra ao espectador que, diferente do que algumas frentes políticas da atualidade querem provar, o período da ditadura militar foi sangrento e assassino.

O lançamento do longa deveria ter ocorrido em 2019, um ano após as eleições presidenciais no Brasil, mas acabou adiado. Com o governo Bolsonaro eleito, ele foi censurado até a última gota pela Ancine.
Mas seu lançamento, em novembro de 2021, não foi em vão. Após dois anos de governo, muitos apoiadores de Bolsonaro começam a abrir os olhos a respeito do presidente e, agora, podem ver na telona o motivo pelo qual ele não gostaria que uma história como a de Marighella fosse contada.

Alerta spoiler!
Uma das partes mais emocionantes do filme mostra o grupo de Marighella invadindo o sinal de uma rádio nacional e interrompendo a programação normal com um anúncio à nação. A ideia era explicar os motivos pelos quais eles lutavam contra o regime de forma tão rígida.

Tudo o que eles queriam era que os brasileiros, vedados pela censura à imprensa, soubessem o que estava acontecendo nos bastidores da ditadura e também se revoltassem, vendo o grupo como revolucionário, e não terrorista, como pintavam os militares.
Infelizmente, Marighella não conseguiu ver as Diretas Já. Também não conseguiu ver a Constituição de 1988 e, bem mais para frente, um governo de esquerda elevar o nome do Brasil mundo afora.

Não sei o que seria de Marighella hoje, vendo um grupo usurpar nossos símbolos nacionais para defender ideias não-democráticas, com incautos berrando pela volta da Ditadura Militar.
Mas logo após o fim do filme, Moura não deixa esse assunto escapar. Em uma cena pós-crédito, uma das mais belas do filme, ele captura os atores em uma espécie de exercício cênico. Emocionados e extasiados, os atores cantam o Hino Nacional Brasileiro como nunca ninguém cantou.

Naquele momento, a gente percebe que nada foi em vão. E é como se o hino fizesse sentido novamente. Não pela letra, melodia ou tradição. Mas, simbolicamente, é como se a nossa pátria estivesse voltando para os filhos que não fogem à luta.
A história de Marighella demorou para chegar, mas, ironicamente, veio na hora certa. E como naqueles radinhos de pilha que emitiram as ondas daquela rádio pirateada nos anos 1960, as ideias de Marighella agora estão estampadas nas telonas de todo o Brasil.

E se cada um que ver o filme despertar em si a importância de se lutar pelo Brasil, como o próprio líder sempre desejou que o povo fizesse, teremos dias melhores pela frente.
Marighella vive!

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