Orar e agir

Por André Sallum | 19/11/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A oração, como atividade essencialmente humana, é preceito fundamental de todas as religiões e filosofias espiritualistas, integrante das diversas escrituras e parte dos caminhos de aprimoramento pessoal.

Pode-se orar com diversos sentidos: pedido, agradecimento, louvor, sintonia, entrega, e a oração pode ocorrer de muitos modos: solitária ou coletiva, em voz alta, cantada ou em silêncio, até o mergulho mais profundo na comunhão com a Fonte da vida, na quietude além de palavras e pensamentos, também chamada de meditação.

Todas as formas de orar possuem seu valor e servem a diferentes propósitos. Alguém que se veja diante de um dilema e precise tomar uma decisão séria dispõe do recurso de orar pedindo inspiração, assim como quem se encontra em crise pode pedir ajuda espiritual. Nos níveis mais profundos de oração nada se tem a pedir nem a dizer, a não ser se abrir ao fluxo de vida que permeia toda a Criação, a fim de que o amor, a sabedoria, a harmonia e a paz alimentem o ser e transbordem, irradiando-se a todos os que possam recebê-lo e senti-lo.

Como o que importa é a intenção, uma oração apenas maquinal é inútil. A questão não é orar muito nem por obrigação, mas de modo espontâneo abrir o coração e a alma, o que independe de fórmulas ou condições externas.

Muitas vezes, para fugirmos de nossas responsabilidades individuais, transformamos a oração em intermináveis pedidos, esperando que algo superior resolva os problemas, o que somente nós poderemos fazer. Esquecemos que a vida, por mil modos, provê os meios necessários – desde que façamos a nossa parte – para solucionar quaisquer problemas. Pessoas bem-sucedidas nas mais diferentes áreas, seguindo elevados preceitos éticos, sentem essa força da vida em si mesmas, e com essa força resolvem os problemas que aparecem, tomam iniciativas, assumem responsabilidades e realizam o que depende das suas mãos fazer.

Qualquer intenção pode significar oração, pois o que se intenciona fazer atrai forças e energias que conspiram para a realização daquilo que se tem como meta. De nada adianta pedir, suplicar e permanecer de braços cruzados, numa forma comodista e desvirtuada de crença. Isso é muito diferente da verdadeira fé, pela qual reconhece-se a existência de leis espirituais e se vive em harmonia com elas, mobilizando forças e coragem para a realização de qualquer tarefa, sobretudo as mais difíceis e desafiadoras, e, quando isso não seja possível, exercita-se a paciência e a resignação diante de tudo o que não depende da vontade humana.

Por motivos egoístas, é comum o desvirtuamento da crença em um poder supremo, pelo qual se adquire uma postura comodista de quem, por acreditar que Deus tudo sabe e pode, espera passivamente que tudo aconteça, esquecendo-se de que, como criaturas divinas, somos dotados das capacidades de pensar, escolher, decidir e agir, as quais podem e devem ser mobilizadas em favor do que se pretende realizar.

Contar com ajudas supra-humanas e espirituais é fundamental mas não significa eximir-se de realizar o que se encontra na alçada de cada um fazer, nem deixar de se esforçar para o cumprimento do que depende de fatores humanos e pessoais. Se a fé e a certeza de auxílios espirituais trazem consolo, sobretudo em períodos de adversidade, igualmente fortalecem o ser no sentido de que supere os obstáculos, realize o que cabe somente a si próprio fazer e se empenhe com o máximo de boa vontade na execução do que se propôs realizar na sua jornada existencial.

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