Cabeças incultas

Por José Faganello | 17/11/2021 | Tempo de leitura: 3 min

“A cultura não se herda ela se conquista” ({Malraux- As Nogueiras de Altemburgo} Qualquer professor tem como tarefa convencer seus alunos da importância de se adquirir conhecimentos, quanto mais amplos melhor para enfrentar os desafios com os quais irão se deparar no futuro. Cultura é uma necessidade imprescindível, pois a natureza nos proporcionou plenas condições de adquiri-la, aliás, ela nos dotou ainda de mãos, atributo humano que nos oferece incontáveis possibilidades de tornar realidade o que nosso cérebro projeta. Enquanto escrevia esse início do artigo, me veio em mente uma dedução que cheguei a comentar muitas vezes em aulas, mas nunca em um artigo. A palavra cultura é usada também na agricultura – cultura da cana, do arroz, da uva, etc. Foi justamente quando o homem descobriu a agricultura que ele pode abandonar o nomadismo cheio de perigos, incertezas e precariedade, para lhe proporcionar estabilidade e maior certeza de contar com o necessário alimento do dia a dia. Ao se tornar sedentário, fixando-se às margens de rios e lagos, pois a água é fundamental para qualquer plantação, criou os primeiros núcleos habitacionais que se transformaram depois em cidades. A convivência nesses aglomerados exigia a definição de tarefas para a prática agrícola em escala e, inevitavelmente provocou progressiva interação entre os indivíduos e, com isso, um aprendizado mais rápido e mais amplo. Foram aperfeiçoando os instrumentos de trabalho, as armas, criando regras de convivência, enfim ampliando a cultura, ou seja, a tomada de conhecimentos do que cada um descobria e agregava ao grupo. Um conjunto de pessoas, a viver numa comunidade, não pode prescindir de uma força reguladora para permanecer socialmente unido. É a cultura que une as pessoas como indivíduos em independência e liberdade através do direito e da arte. Ao estudar a história da humanidade descobrimos que cada época teve sistemas de idéias que aglutinavam e dirigiam o modo de viver do povo. Selma Lagerlof definiu a cultura individual, ou a bagagem de conhecimentos de cada um como: ”A cultura é o que subsiste quando se esqueceu tudo que se tinha apreendido”. É essa a maior questão que aflige o professor. Os recursos atuais para se adquirir conhecimentos, em todas as áreas, são, praticamente, ilimitados, no entanto, apenas 5% dos alunos aproveitam-se dessa admirável dádiva. É comum confundir inteligência com conhecimento. Se alguém não sabe alguma coisa, não pode ser tachado de burro. Muitas vezes recebi provas em branco ou inacabadas, com o comentário: “Professor, fui mal; sou burro, não consigo aprender essa matéria”. - Você estudou para a prova? - Não deu tempo. - Você acha que seus colegas que estão fazendo a prova e irão tirar nota, nasceram sabendo? Em geral nada respondiam e se retiravam crentes de, que ao jogar a culpa na burrice, estariam desculpados pelo fracasso.

Não podemos contestar Selma Lagerlof, pois, de fato, tomamos conhecimento de uma enormidade de informações, que são gotas no oceano, e mesmo assim, retemos muito pouco; alguns mais, outros menos, mas quem não se aplica, praticamente, nada assimila.
Nos poucos contatos que tive com colegas ainda na ativa, percebi um desânimo geral com o atual magistério. Afirmam que se deparam, com raras exceções, com um panorama desolador.
Como ensinar em meio à indisciplina? Como aprender sem muita leitura, interesse e aplicação?

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