Nossa vida, admitamos ou não, é permeada de verdades e mentiras, luzes e sombras. Cremos que precisamos dissimular certas dores e fugir de muitos conflitos e um dos mecanismos é a negação. Negamos tudo que não conseguimos enxergar ou não temos coragem de ver por ser muito doloroso ou por não sabermos lidar com a situação.
Há muitas formas de fugirmos da verdade: negação, dissimulação, distorção de fatos e de conceitos, relativização, justificativas. Há mentiras ostensivas e outras, mais sutis, as quais temos dificuldade de reconhecer. Tendemos a acreditar naquilo que nos convém, a aceitar o que nos conforta, a dar crédito ao que perpetue nosso estado e nos mantenha na zona de conforto, longe do necessário esforço de mudança.
Temos a tendência, não muito nobre nem saudável, de enxergar a verdade, ou algum aspecto dela, quando diz respeito às falhas alheias, e, por outro lado, parece-nos difícil perceber, por mais evidentes que sejam, nossos próprios problemas e limitações.
No atual nível evolutivo, nossa percepção da realidade é ao mesmo tempo limitada e distorcida, seja por nossa ignorância sobre fatos e fenômenos, seja por preconceitos e condicionamentos, frutos do orgulho, egoísmo, vaidade e demais aspectos do ego. Apesar disso, ou por isso mesmo, evidenciamos nossa arrogância e presunção quando nos achamos no direito de julgar e condenar os outros, o que pode significar satisfação sádica e compensação por não conseguirmos lidar com nossas próprias falhas, projetando-as nos outros.
Parte imprescindível do processo evolutivo é a gradual apreensão da verdade pelo conhecimento das leis que regem a vida, dentre as quais as de natureza espiritual. O papel das religiões e das filosofias espiritualistas é (ou deveria ser), o de apresentar aos seus adeptos informações seguras e confiáveis, acompanhadas de orientação e sobretudo de exemplos de conduta. Infelizmente, a fim de que as pessoas permaneçam na ignorância e, consequentemente, continuem facilmente manipuláveis, muitas revelações espirituais têm sido intencionalmente adulteradas ao longo da história, atendendo aos mais torpes interesses, o que tem mantido significativa parcela de crentes e fiéis em uma ignorância que momentaneamente os conforta e que servem aos propósitos daqueles que disso se aproveitam.
A busca da verdade faz parte da jornada existencial humana, e se dá por múltiplas vias: na ciência, pela pesquisa sistemática e metódica; na filosofia, pela reflexão, razão e lógica; na religião, pelas revelações, pela intuição e pela fé. Esses caminhos, dentre outros, são válidos e complementares, necessários em diferentes níveis e dimensões da vida. Nenhum deles pode, sozinho, abarcar toda a verdade da vida nem de qualquer fenômeno. Daí a necessidade de se unir esses saberes, cada um contribuindo no seu campo, a fim de que a compreensão da vida se expanda, para que a religião não se converta em crenças cegas nem em fanatismo, a filosofia não se transforme em racionalidade fria e estéril e a ciência não se limite ao materialismo, não se submeta a intenções destrutivas nem esteja a serviço de interesses perversos, como tem ocorrido tão frequentemente (basta ver o que produz a indústria bélica, por exemplo).
Integrar a verdade que somos capazes de conceber e compreender – o que sabemos, sentimos e intuímos – expressando-a na vida de cada momento, constitui desafio e estímulo para que expressemos um viver individual e coletivo cada vez mais harmonioso, saudável e pleno.
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