Intenção e ação

Por André Sallum | 08/10/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Diante dos inumeráveis problemas que se apresentam no mundo contemporâneo, qualquer pessoa de boa vontade certamente manifesta o desejo de colaborar para sua solução. Ocorre que, graças à natureza humana preponderante, é fácil propor soluções imediatas para quase todo tipo de problema – seja social, político, econômico, religioso. Esquecemo-nos de que é sempre muito simples julgar, encontrar as respostas e apresentá-las aos outros, principalmente se não nos afetam diretamente e desde que não interfiram nos nossos interesses pessoais, conveniências, preconceitos e modo de vida – os quais não nos propomos mudar tão facilmente.
Além disso, convém lembrarmos que qualquer ação que venhamos a praticar é, de uma forma ou de outra, reflexo e expressão de nossas intenções, sejam elas explícitas ou ocultas, admitidas com lucidez ou fruto de impulsos inconscientes. Conhecer e reconhecer nossas reais intenções parece fundamental em qualquer processo de educação e desenvolvimento humano pois, de outro modo, tendemos a continuar camuflando-as e mascarando-as através de hipocrisia, mentiras, dissimulações e demais mecanismos que somos tão hábeis em utilizar, a fim de não sermos confrontados com aspectos menos luminosos do nosso ser e não tão nobres do nosso caráter.
Qualquer que seja a jornada de aprimoramento que alguém se empenhe em seguir, o autoconhecimento é parte imprescindível e indissociável no despertar e florescer das potencialidades anímicas de que somos dotados. Importa, como parte desse processo, limpar a mente e o coração de tudo o que seja obstáculo, obscurecimento ou impureza, a fim de que a verdade prevaleça e ilumine o caminho.
Incomoda-nos reconhecer algumas de nossas intenções mais ocultas, por isso o evitamos quando, nas ações e discursos, procuramos expressar qualidades que nem sempre possuímos. É sempre fácil parecer, tanto quanto difícil se torna revelar aquilo que somos de modo honesto e transparente.
Admitir as intenções menos dignas que possuímos e que se tornam impulsos a muitas ações é um passo indispensável no conhecimento de nós mesmos. Somente assim podemos, sem julgamentos nem condenações – mas igualmente sem subterfúgios nem escapismos – aprimorar o nosso caráter, a fim de que as qualidades anímicas que todos trazemos em potencial possam se expressar de modo cada vez mais livre e pleno, com os consequentes resultados de alegria, harmonia, saúde e paz – objetivo essencial da vida de todo ser consciente e responsável.
Temos a tendência de nos esconder atrás de rótulos, instituições, ideologias, religiões, crenças, a fim de buscarmos legitimar o que, sozinhos e desnudos, teríamos dificuldade de admitir. É sempre cômodo nos sentirmos protegidos por grupos e instituições que nos eximam de assumir, perante nós mesmos e o mundo que nos cerca, nossas reais intenções e interesses.
Quando reconhecemos o quanto existe de egoísmo, orgulho, vaidade, desejo, presunção ou ambição naquilo que buscamos e fazemos, sentimos um contato maior com a própria verdade interior, a qual nos aponta, com clareza, os rumos a seguir no sentido de nos libertarmos dessas algemas e desses obstáculos à nossa evolução, ainda que disfarçados de ilusórios benefícios.
Nesse contínuo e incessante aprender que é o viver, somente quem reconhece, enfrenta e trabalha com as próprias sombras, no sentido de curá-las e iluminá-las, torna-se apto a dar os próximos passos na jornada de libertação e realização existencial, até que as ações sejam o puro reflexo do ser.

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