Há um tempinho, uma expressão inglesa tomou conta das redes sociais: "cringe". A palavra foi adotada pelos adolescentes da nova geração, que substituíram a velha "vergonha alheia" pelo sinônimo americanizado.
A palavra é usada quando você vê uma pessoa ou um grupo fazendo algo que te constrange. Geralmente, quando isso acontece comigo, costumo suar bastante. É uma reação do meu corpo ao ver uma situação muito constrangedora.
Isso voltou a acontecer ao me deparar com fotos e relatos de uma mini-manifestação de piracicabanos no centro da cidade, ocorrida no domingo, 1 de agosto.
Veja bem! Pessoas se aglomeraram na praça José Bonifácio, alguns usando máscaras, outros sem, não para exigir mais vacinas do governo como forma de salvar mais pessoas da morte por Covid-19. Tampouco para pedir que haja investigação na compra ilegal de medicamentos e imunizantes pelo Executivo federal.
Você poderia pensar que eles estariam ali reunidos como forma de protesto e luto aos mais de 500 mil brasileiros mortos na pandemia. Mas não foi nada disso…
A tal manifestação aconteceu com o objetivo de exigir a volta do voto impresso e a "contagem pública de votos" nas próximas eleições. Sim, senhores, em meio a uma das maiores catástrofes de saúde pública do mundo, pessoas saíram de suas casas com o objetivo de convencer alguém que a melhor coisa que poderia acontecer no Brasil, agora, é a substituição das urnas eletrônicas pelo voto impresso.
Claro que foi aquele circo verde-amarelo. Fizeram até mesmo questão de cantar o hino de Piracicaba, já que era o aniversário da cidade. Que presentão, hein, Pira?
Por que raios essas pessoas preferem acreditar que o voto impresso é mais "seguro" que o método eletrônico? Porque não têm informação sobre como funciona o processo. Quem já trabalhou durante as eleições sabe muito bem que as urnas são auditáveis.
Tanto que, no final de um dia de votação, cada sala tem impresso a quantidade de votos para cada candidato na porta que pode ser comparado com o número de assinaturas de cada votante. Representantes de partidos políticos podem acessar os procedimentos finais para garantir a confiabilidade.
A urna eletrônica, apesar do nome, não tem conexão com a internet e a forma informatizada do voto torna a contagem mais segura, pois não é feita voto a voto por uma pessoa, que pode cometer muito mais erros. Além disso, o voto eletrônico é econômico, já que não se gasta com pessoal e com papel como acontece com o voto impresso.
Com 25 anos de uso, a urna eletrônica nunca teve um caso de fraude e a documentação histórica das eleições está disponível no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para a pesquisa de quem duvidar. É uma das poucas criações brasileiras em tecnologia que o Brasil exporta para outros países. Deveria ser motivo de orgulho.
Não faltam argumentos para defender a urna eletrônica. Já as críticas e acusações são fracas e escassas. Nem mesmo Jair Bolsonaro, o líder do criticismo ao sistema, conseguiu provar que existiu fraudes nas eleições passadas realizadas com urnas eletrônicas.
O presidente conta mentiras atrás de mentiras ou reproduz velhas teorias da conspiração que há anos assola a internet para tentar convencer a população. Parece um adolescente mimado igual ao personagem Kiko, do seriado Chaves, que bate o pé e chora querendo uma bola quadrada sendo que bola quadrada nem existe.
O grupeto de piracicabanos que apoia o governo Bolsonaro com unhas e dentes parece formado por pinchers, aquele cachorrinho pequeno e barulhento, mas que se morde basta soprar que a dor passa.
Piracicaba é linda, cheia de encantos e pessoas maravilhosas, mas parte da população e de uma elite "cringe" segue firme com o objetivo de fazer a gente suar de vergonha alheia. Haja desodorante!
LEIA MAIS