Esperança a perigo

Por José Faganello | 07/07/2021 | Tempo de leitura: 3 min

“Nem esperança, nem socorro, nem remédio”. (Shakespeare – Romeu e Julieta, ato IV)

O verbo esperar abriga vários significados, como: ter como provável ou certo o obter (alguma coisa). Contar com a realização de algo prometido. Recear. Aguardar alguém com ou para alguma coisa. Supor, conjeturar.

Evidentemente, o substantivo feminino derivado do verbo esperar, ou seja, Esperança envolve um significado positivo, a espera de um bem, cuja posse se reputa provável. Temos como tendência inata, considerar sempre, ainda nos piores momentos, como prováveis, mesmo delirantes anelos.

O poeta latino Horácio, em uma de suas Odes alertou-nos: “A duração breve de nossa vida proíbe-nos de alimentar uma esperança longa”.

Conselho inútil, pois mesmo nas circunstâncias mais adversas não perdemos a esperança e pode-se dizer que ela não nos abandona mesmo no leito de morte; basta ver, na tarde desse domingo, o ânimo dos torcedores, tanto daqueles cujos times têm probabilidade de sagrar-se campeão, como o dos ameaçados de rebaixamento.

E, após o resultado no final desta tarde, aqueles que constataram ter esperado em vão, imediatamente serão tomados por uma nova esperança, por exemplo, seu time, perdedor do Brasileirão, ser campeão da Copa Libertadores das Américas.

Ela nos envolve desde a meninice e vai minorando as penas de nosso viver, a ponto de tornar-se a melhor coisa para nós, pois não nos deixa desanimar e nos convence que poderíamos estar numa situação pior.

Nós brasileiros, somos embalados há décadas pelo sonho de estarmos num país do futuro. Aliás, podemos dizer que assim é desde o descobrimento. Basta ver o rasgado elogio de Pero Vaz de Caminha em sua carta, certidão de nascimento de Brasil: “(…) Até agora não podemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal ou ferro; nem lha vimos. Contudo, a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre – Douro – e – Minho, porque nesse tempo d’agora assim os achamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar essa gente”.

Tanto a esperança de salvar a gente, como a de aproveitar a fertilidade da terra e abundância de água para torná-la produtiva foi um sonho utópico, destruído por 300 anos de colonização predatória e a gente a ser salva foi dizimada por cruento genocídio.
Da proclamação da independência, até o final do segundo reinado apenas conseguimos manter a unidade territorial, diferentemente do que aconteceu na área dominada pela Espanha.

Uma minoria usufruiu de privilégios, mantendo a maioria em degradante pobreza e ignorância.

No Segundo Reinado, perdemos o primeiro bonde da história por não aproveitar as oportunidades da revolução industrial, o que não aconteceu com os EUA.

A República Velha apenas mudou a forma de governo, não mexeu nos privilégios, não permitiu uma real participação do povo e manteve a precariedade do ensino e dos demais serviços públicos.

A Revolução de 30 trouxe alguns avanços, insuficientes para queimar etapas e proporcionar melhorias compatíveis com nosso potencial e nossas incalculáveis riquezas.

No momento as estruturas do governo, no entanto, estão carcomidas e mais cedo ou mais tarde irão desabar. Os cupins da corrupção invadem-na em suas principais escoras: o legislativo está completamente desvalorizado. O executivo nada de braçadas nesse mar revolto, até agora incólume a todos os escândalos. A oposição, tudo indica, por igualmente estar comprometida, não consegue mostrar interesse em mudar essa situação e nem sequer é capaz de uma união para lançar seu candidato.

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