Boccaccio

Por José Faganello | 30/06/2021 | Tempo de leitura: 3 min

“O apetite do ser humano não se conta dentro de nenhum limite; deseja sempre ultrapassar o ponto em que se encontra” (Giovanni Boccaccio.)

Giovani Boccaccio, filho natural de um banqueiro florentino, rivalizou com Shakespeare e Dante em criar caracteres e tantas figuras diversas, representando os vícios e as virtudes das pessoas. Ele, encaminhado pelo pai, para trabalhar no ramo bancário, conseguiu, após não muito tempo, abandoná-lo a fim de cursar uma universidade. A condição imposta pelo pai foi a de que cursasse direito canônico. Embora não lhe agradasse aceitou a imposição. Preferia estudar uma disciplina aborrecida a continuar lidando com cifras, letras de câmbio e promissórias. Na realidade, não tinha intenção de assistir às aulas; queria apenas freqüentar o ambiente universitário. Acertou em assim proceder. Lá fez importantes amizades como a de Paolo de Perugia, bibliotecário real que lhe proporcionou a leitura de manuscritos raros, de obras famosas, de romances franceses em tradução italiana e da poesia trovadoresca em dialeto provençal. Para melhor aproveitar os textos clássicos, estudou latim e grego. Freqüentou seus amigos ricos, que gostavam de companhia jovem e de conversa agradável. Boccaccio, em muitos de seus escritos, recordou com saudades destes tempos felizes: as vilas à beira-mar, os jardins perfumados, as grandes festas, enfim, os prazeres que lhe incendiavam a imaginação.

Boccacio, que foi um dos primeiros a fugir da hipocrisia que dominava seus contemporâneos, morreu cansado da vida, duvidoso da glória e infeliz em seus amores. Pena que ele não possa participar destes tempos modernos. Iria verificar que seus contos, considerados obscenos, hoje sequer causam interesse nos jovens , acostumados com as cenas de sexo explícito em qualquer novelinha de TV. Se, quanto ao sexo iria encontrar enorme mudança nos costumes, o mesmo não podemos dizer a respeito da política. Veria que, se na Florença sempre em armas e em lutas políticas, tudo era válido, inclusive o assassinato para se conquistar ou se manter no poder, hoje nada mudou. Constataria que aqueles que alcançam o poder, não exitam em querer não apenas ampliá-lo, como tudo fazem, para conseguir sempre mais, maiores privilégios. Nomear parentes, nomear assessores fantasmas, barganhar às escancaras apoios políticos, utilizar de casuísmos, é a norma.

Hoje, não é a Igreja que endossa os abusos do poder. É a mídia. a não ser as ansiosas por verbas e temerosas de represálias, procuram ficar sempre do lado dos governantes. O povo, despolitizado, é alvo fácil do bombardeio ostensivo de uma propaganda enganosa. Em geral, não apenas aceita tudo como verdade, como apoia os governantes que os infelicitam. Não protestam quando ouvem que o governo está governando bem, como se isso não fosse uma obrigação. Gerir Bem os recursos, procurar diminuir as injustiças sociais deve ser a meta e não locupletar-se de privilégios pagos pela imensa massa que, anos após anos, apenas aguarda promessas jamais cumpridas. Enquanto os governantes esfalfam-se em viagens perdulárias e festins constantes, a turba multa vê suas migalhas diminuírem cada vez mais, enquanto suas obrigações para com o fisco aumentam.

Para Baltazar, em seu último festim, apareceu a mão misteriosa que escreveu os não menos misteriosos dizeres: Mené, Thequel e Pharsin. O profeta Daniel, convocado para decifrá-los, foi direto: Deus contou os anos de teu reinado e nele pôs um fim; foste pesado na balança e considerado leve demais; teu reinado vai ser dividido e entregue aos medos e persas.

Estamos vendo pela Mídia que vários governantes se recusam de deixar o poder e nele se perpetuam, mesmo sabendo que seus súditos querem que saiam.

Nas paredes de seus palácios está escrito: Reeleição.

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