O que fica do que foi

Por Walter Naime |
| Tempo de leitura: 3 min

Walter Naime, Arquiteto-urbanista e empresário

Tudo sofre transformações impostas pelas leis naturais e circunstanciais das necessidades de sobrevivência.
Nas narrações feitas através dos tempos, é frequente encontrarmos a frase “era assim e ficou assim”.
As mudanças são próprias da existência humana, e as histórias geralmente contadas são transmitidas pelos interessados dela. As razões desses interesses variam com as situações e cenários apresentados. Raros os casos em que a história é desnudada na sua crueza.
As narrativas de maneira geral mostram que o tempo e o homem destroem, cada um à sua maneira as coisas materiais, as crenças, as imagens, as ideologias, os sonhos e certezas que, os adversários quiseram deixar na memória como legado para o futuro.
Sábios os que sabendo dos valores que essas memórias representam, tentam preservá-las delegando ao futuro o “o que fica do que foi” num gesto de respeito e de aplausos aos seus realizadores.
Muitas coisas foram apagadas no decorrer de épocas diferentes por meio das forças da natureza: vulcões, terremotos, maremotos, tempestades, pestes, fome e sede.
Muitas outras foram apagadas no cenário da competição humana como forma de exercer o domínio tribal, nacional, civilizatório, intelectual, social, espiritual, cultural, econômico, usando todas as estratégias e artifícios não dispensando a violência. Os resultados dessas “apagadas” acompanhadas da tecnologia trouxeram influência em todos os costumes sociais, costumes de mando e governança.
Das destruições, sejam elas naturais ou artificiais, sempre ficam as sobras do “o que fica do que foi”. Isso se dá de modo diferenciado dependendo do potencial das forças usadas na transformação.
Os percentuais da sobra do “o que fica do que foi” são variáveis, sendo todos testemunha das intenções desejadas.
Temos exemplos de devastações naturais na antiga Pompéia, Mesopotamia, Egito, civilização dos Maias, civilização dos Incas e outras.
Exemplos de devastações humanas aparecem em guerras como as dos Impérios asiáticos, do Império otomano, do Império romano que arrazavam com tudo o que estivessem a frente, através de seus exércitos vorazes. Atualmente as guerras travadas na África, Oriente, e as duas últimas guerras mundiais, das quais temos subprodutos até hoje, são exemplos vivos.
Evitar conflitos é uma obrigação democrática. Sempre que se puder resolver os problemas com diplomacia é uma vitória, quando os atritos ficam resolvidos na hora dos debates. Quando não prosperam há aparecimento da violência tomando conta do evento.
Estamos assistindo pelo mundo afora as dificuldades de entendimentos nas contendas parlamentares. O fenômeno de quem está com a razão, quem está com a verdade, quem detém a autoridade para manter a legalidade é posta em “cheque” pelos diversos órgãos de divulgação que acabam usando o “fake news” como arma no seu interesse, destruindo aquilo que resta da decência, pondo em risco o equilíbrio que dá lugar à baderna como final de percurso. Ninguém está sabendo mais o que é o certo e o que é errado diante das diversidades. Os erros estão sendo absolvidos em função da incerteza judiciária que tem no arcabouço de leis necessidades de reformas difíceis de serem realizadas.
Ao final, com a falta premente da justiça a curto prazo o país fica empacado dentro de uma pandemia que assusta o mundo.
“O que fica do que foi” é o resultado do “embrólio” criado pela dominância humana.
Espera-se que “o que fica do que foi” não seja só a lição de casa que falta, colocando os olhos para o “futuro que parece morto” no modelo antigo dos nossos antepassados, que está sendo posto à prova.
A condenação da trajetória desarmoniosa dos entendimentos deve ser analisada para que atinja a presença da razão tão desejada de “o que fica do que foi” e se ainda ficar só o “exemplo” do que não deve ser repetido, estaremos felizes.

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