“Não são as coisas em si mesmas que perturbam os homens, mas o juízo que eles fazem sobre as coisas” (Epiteto séc. 1 D.C).
Ao longo de minha vida, convivi com inúmeras pessoas que detestam despertar cedo. Sempre acordei com disposição para usufruir o novo dia que me é concedido. Estar desperto é estar vivo.
Não consigo entender como alguém se delicie a ficar na cama até tarde, perdendo o precioso tempo. Teremos a eternidade para dormir.
Em uma viagem para o exterior, que fiz com um amigo, aliás excelente companheiro, no início, começamos a discordar.
Como estávamos em uma viagem de recreio, procurava aproveitar cada minuto, pois não tinha sentido realizá-la, para ficar dormindo num hotel. Ele, no entanto, era avesso a acordar cedo.
Eu acordava bem cedo, tomava meu banho, vestia-me e abria a janela do quarto, ligava a TV e não sossegava enquanto ele não acordasse.
No início acordava mal humorado, mas após alguns dias, chegou à conclusão que era ele que estava errado, pois conseguíamos visitar muitos lugares, o que não seria possível, saindo tarde.
Li num almanaque há muitos anos, agora não vejo mais almanaques - que os milhões obrigados a acordar cedo para trabalhar, se não estivessem tomados pela sonolência, teriam realizado muito mais, melhor e com prazer, não com raiva.
Em meu tempo de estudante, e depois, como professor, grande parte dos alunos, nas primeiras aulas, nunca estavam despertos o suficiente para um trabalho intelectual efetivo.
Se o simples fato de acordar cedo consegue azedar o dia de alguém, imagine o que acontece com aqueles que são dotados de uma imaginação pessimista.
A maior parte dos momentos de felicidade ou de infelicidade é criada apenas com o auxílio de coisas imaginadas.
Mesmo para, aqueles que gozam de boa saúde, não tem dívidas e tem a consciência limpa, pouco se pode acrescentar, para aumentar sua felicidade, mas muito pode ser subtraído, pois qualquer adversidade é capaz de deprimi-lo a tal ponto que é capaz de desconsiderar tudo de bom que tem.
Schoppenhauer, filósofo alemão, que se filiava a Platão, Kant e ao budismo, opinava que: “tudo na vida clama que a felicidade terrena está destinada a ser malograda, ou reconhecida como uma ilusão”. Os dispositivos para isso encontram-se profundamente na essência das coisas. […]. A vida se expõe como um engodo contínuo, tanto em coisas pequenas como grandes. Caso ela tenha prometido, não cumpre, é para mostrar quão pouco digno de desejo era o desejado- assim nos enganam, ora a esperança, ora o objeto da esperança.
Forneceu-nos a vida algo, é para nos tirar. O encanto da distância nos mostra paraísos, os quais somem como ilusões de ótica, quando nos permitimos ser por eles ludibriados. A felicidade, em consonância com tudo isso, reside sempre no futuro ou também no passado, e o presente é comparável a uma pequena nuvem negra, que o vento impele sobre a superfície do Sol: em frente e atrás, tudo é brilhante, apenas ela projeta sempre uma sombra. O presente, por conseguinte, é a todo o momento insuficiente, o futuro, entretanto, incerto, o passado, irrecuperável. [“…] A vida é um negócio que não cobre os seus custos”.
Esse texto, escrevi, pois retrata nosso momento. O anunciado “País do Futuro” de Stefan Zweig, profetizado por ele na década de 40, não se concretizou até agora, aliás, em nossa História, os períodos de felicidade são páginas em branco.
O que esperar do futuro? Será Feliz ou Infeliz? No momento, embora preocupadíssimo com nossa situação, comungo com o poeta Mário Quintana: “Não me constranjo de sentir-me alegre./ De amar a vida assim, por mais que ela nos minta”.
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