Sempre tive a curiosidade de saber sobre a importância e a “necessidade” de falar palavrão. Muitos, ao lerem este artigo apresentado pela jornalista Danielle Sanches, poderão achar estranho e até desnecessário. Porém, existe fundamento nesta atitude de desabafo. Acompanhem:
“Não há nada melhor do que soltar um palavrão depois de acertar a quina da cama com o dedinho do pé. As palavras também podem sair assim, espontaneamente, após uma ‘fechada’ no trânsito ou mesmo quando ouvimos uma notícia triste ou surpreendente. Se você se reconheceu em alguma dessas situações, fique tranquilo: falar palavrão é algo normal do ser humano e, acredite, pode até ser uma ferramenta para nos ajudar a lidar com a dor.
Xingar ativa o nosso modo ‘luta ou fuga’, desencadeando uma cascata hormonal e psicológica com efeitos que nos ajudam a lidar com dor, afi rma Timothy Jay (professor de psicologia nos Estados Unidos). Além disso, a fala também nos ajuda a distrair a mente da sensação desconfortável.
Esse efeito foi observado em um estudo feito por uma universidade no Reino Unido em abril de 2020. Os pesquisadores analisaram a reação de 92 participantes ao ficarem com a mão em um balde de gelo. Eles só podiam falar três palavras (um palavrão ‘tradicional’ e outros dois ‘falsos’).
Eles cronometraram quanto tempo levou para que os voluntários começassem a sentir dor, e sua tolerância ao incômodo foi determinada por quanto tempo eles conseguiram manter as mãos na água gelada. Observou-se que houve uma diferença de tolerância de acordo com o tipo de palavrão usado. O tradicional, no caso, aumentou a tolerância à dor em 33%, enquanto os palavrões falsos fizeram pouco nesse quesito.
De acordo com Jay, assumir a ‘boca suja’ também pode ser considerado um sinal de inteligência. Ele publicou um estudo que demonstrou que indivíduos com grande vocabulário também são experts em criar palavrões. ‘Se relacionarmos o uso da linguagem com a inteligência de alguém, então sim, a habilidade de xingar está relacionada à inteligência dessa pessoa’, afirma.
Segundo a psicanalista Bárbara Santos, falar um palavrão pode parecer uma coisa impensada e sem significados, mas não é bem assim. Faz sentido usar essas expressões em momentos de grandes explosões emocionais ou de energia represada.
O propósito de usar um palavrão é expressar uma emoção de grande intensidade, e o xingamento deixa isso bem claro quando é usado.
Xingar o pé da cama que segurou nosso dedinho é uma coisa. Mas, e aquele palavrão que enche a boca e sai na hora do gol durante uma partida de futebol? E quando usamos as palavras ‘sujas’ para apimentar o sexo?
Essas situações mostram que o uso dos palavrões precisa de um contexto e saber ler essas informações é fundamental para se relacionar em sociedade com outras pessoas. Saber quando e onde usar ou não esses xingamentos é uma habilidade cognitiva
semelhante a escolher a roupa certa para cada ocasião ou local, uma ferramenta social bastante sofisticada.
Se você ainda acha que é melhor riscar essas palavras do seu vocabulário, saiba que não há necessidade para isso. Por que pararíamos com algo que tem impactos positivos na nossa vida? Ou seja, você não precisa lavar a boca com sabão e se policiar
para não falar: o melhor é aprender a usá-los de acordo com a pessoa, o lugar e a situação.
Do contrário, podemos ser reprimidos, punidos e até excluídos do convívio por ofender alguém com essa forma de expressão”.