O governo do Estado de São Paulo teve um momento de inspiração no dia 26 de março de 2021 e assim decretou: «Ficam reconhecidas como essenciais as atividades desenvolvidas no âmbito da rede pública e das instituições privadas de ensino». Educação como atividade essencial? Pode até parecer surpreendente, mas num país de terceiro mundo o governador do principal Estado brasileiro precise (e finalmente o fez) decretar as atividades educacionais como essenciais ao ser humano.
Sim, estamos em meio a uma pandemia de um vírus contagioso. Mas por conta disso, tudo o mais deve ficar parado? Já perdemos um ano, perderemos este outro também? As crianças devem ficar sem educação em benefício de uma suposta proteção a seus professores? Todas as atividades têm risco, do eletricista que maneja fios de alta tensão ao médico na linha de frente do pronto socorro. Não seria diferente para o professor. Um velho pedagogo já dizia que ensinar é um ato de coragem.
Já é sabido (mas talvez pouco divulgado) que crianças e jovens até 18 anos não são os maiores responsáveis pela disseminação da covid-19. Informação essa que se encontra no próprio site da Prefeitura Municipal de Piracicaba. Mas qual a real intenção de se manter escolas fechadas quando tantas pessoas se aglomeram irresponsavelmente em bares e festas? Estamos assistindo a uma inversão de valores por conta da pandemia de coronavírus?
Não seria fora de contexto lembrar a Lei de 15 de outubro de 1827, decretada por Sua Majestade Imperial D. Pedro: «Em todas as cidades, vilas e logares mais populosos, haverão escolas de primeiras letras que forem necessárias » . A Constituição de 1824 já incluía o princípio da liberdade de ensino e gratuidade da instrução primária a todos os cidadãos. Nosso governador não está mais do que reverberar a importância do ensino que a família real há muito já havia feito. Mas com o passar dos anos e, principalmente com o advento da pandemia, passamos a não mais saber o que é essencial.
No mesmo mês de março de 2021, fez um ano em que o covid-19 chegou em Piracicaba. De lá para cá pouco foi feito para conter o avanço da epidemia virótica: falta testes, demora nos resultados, não ampliação leitos hospitalares. A gestão municipal anterior se concentrou em apenas uma coisa: vencer as eleições. E quem pagou o alto custo dessa imprevidência: comerciantes, empresas, trabalhadores que vivem exclusivamente de renda e as crianças e jovens privados do ensino. 2020 foi um ano de inconsequentes férias escolares.
Optou-se por uma reação passiva à pandemia: ficar em casa e nada fazer. Ficamos em torno de discussões políticas inócuas e cedemos à comodidade de quem podia (e queria) ficar em casa com os vencimentos mensais intactos. Mas e quanto às crianças e jovens (estes que não tem o poder do voto)? Bem, estes ficaram literalmente à margem, isolados.
Foi preciso passar um ano inteiro (!!) para se reconhecer o óbvio: as atividades de ensino são essenciais. E agora? É certo que não podemos voltar atrás e refazer nosso começo, mas podemos sempre recomeçar de onde estamos.
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