Estudos sobre a ineficácia do lockdown

Por Érica Gorga |
| Tempo de leitura: 3 min

No dia 24/03, publiquei aqui artigo apresentando dados e argumentos objetivos para questionar aspectos do lockdown decretado pela prefeitura de Piracicaba. Um dos pontos que critiquei, referente ao fechamento de farmácias depois das 20 horas, foi revisto pelo prefeito, que admitiu, em vídeo do dia 25/03, que a medida poderia causar prejuízos à saúde de munícipes, permitindo que estabelecimentos farmacêuticos ficassem abertos sem restrições de horário durante o lockdown. A revisão da regra demonstra que nossa argumentação foi sensata e procedente.

Todavia, a vereadora Rai de Almeida, em 25/03, manifestou-se neste espaço atacando nosso artigo como “descabido e infundado”, usando “argumentação falaciosa”. Além desses adjetivos pejorativos, sem apresentar nenhum dado ou estudo científico publicado, a vereadora nos associou a “vozes aleatórias desconectadas da realidade” e ao “negacionismo”.

Aparentemente, a vereadora desconhece o resultado de pesquisas científicas recentes publicadas em alguns dos periódicos científicos de maior reputação do mundo.

Estudo de epidemiologistas de Stanford, publicado recentemente no European Journal of Clinical Investigation, comparou grupo de países que aderiu a restrições severas, com imposições para “ficar em casa” e fechamento de atividades comerciais, a outros que usaram medidas menos restritivas, e concluiu que restrições severas não produziram benefícios significativos quanto à disseminação da covid-19 em nenhum país investigado. Os autores Bendavid et al. alertam que medidas mais restritivas podem estar associadas a maior frequência de infecções de covid em populações mais vulneráveis. Ponderaram que, mesmo que haja benefícios da política restritiva, eles podem não justificar os custos suportados pela população.

Outro artigo de autoria de Savaris et al. nos Scientific Reports da Nature demonstra que em 98% das comparações entre 87 regiões do mundo não há evidências de que o número de mortes por milhão de habitantes é reduzido pela política do “fica em casa”. Os autores avaliaram dados do Brasil e concluíram que fechamentos não reduziram significativamente as mortes.

O Peru, com o lockdown mais severo do mundo, atingiu, em setembro, o maior número de mortes por milhão de habitantes. Análise das estatísticas de mortes causadas pela covid, do site statista.com é reveladora. Inglaterra e Itália, que tiveram lockdowns severos, têm mais mortes do que países do resto da Europa com menos restrições de circulação.

Nos Estados Unidos, o estado da Geórgia que, desde o ano passado deixou de aplicar medidas restritivas de lockdown, tem mortalidade semelhante à média do país. A Califórnia que fez estrito lockdown tem taxa de mortalidade semelhante à da Flórida, que não fez. A Flórida deixou as pessoas trabalharem, as crianças irem à escola e não fechou praias com a justificativa de que as pessoas estão mais seguras ao ar livre do que em ambientes fechados. A Flórida tem taxa de mortalidade abaixo da média americana, segundo dados do Becker’s Hospital Review.com.

A vereadora cita o caso de Araraquara, mas não informou que houve expansão da rede hospitalar de UTIs durante o período de lockdown, conforme declarado pelo próprio prefeito, e que, portanto, a redução da fila para internação não poderia ser atribuída somente ao lockdown. Além disso, a vereadora se esquece que efeitos de políticas de lockdown, na metodologia científica, não podem ser mensurados em curtíssimo período de tempo, sem se utilizar controle com amostras de lugares que não fizeram lockdown.

Muito fácil ser a favor do lockdown que impõe a perda de renda da maioria, sem que a vereadora abra mão do próprio salário pago pelos impostos coletados pelos trabalhadores prejudicados.

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