Ninguém Causa Emoção em Ninguém (parte 4/5)

Por Luiz Xavier | 16/03/2021 | Tempo de leitura: 3 min

"No meu próprio caso, jamais poderia admitir o sentimento de medo de alguém ou de alguma coisa nos primeiros quarenta anos da minha vida. Pelo menos era isso que pensava minha cabeça e dizia minha boca. Mas meu pobre estômago é que pagava o preço da minha repressão. E também meu intestino parecia não acreditar em minha cabeça ou em minha boca. Preferia tomar remédios para gastrite a admitir a verdade.

Talvez os três motivos possam ser reduzidos a apenas um. O que é preciso é de auto aceitação, autoestima. Preciso protegê-la de um sem número de ameaças: todas as que vêm de dentro e todas as que vêm de fora. As emoções, se forem incompatíveis com a auto aceitação, podem trazer perigo à torre precária e balançante de minha autoimagem. Não posso admitir tais emoções. Portanto, passo a ter dores de cabeça, alergias, úlceras e gripes viróticas. Emoções enterradas são como pessoas rejeitadas: fazem-nos pagar caro por as termos rejeitado. Não há fúria que se equipare a uma emoção desprezada.

As emoções reprimidas não estão realmente perdidas. De uma maneira ou de outra, continuam nos lembrando que não conseguimos, de fato, rejeitá-las inteiramente. Além da série de sanções dolorosas, a tragédia essencial da repressão é que todo o processo de crescimento humano é paralisado, pelo menos temporariamente. Os psicólogos chamam a isso de 'fixação', uma parada no crescimento e no desenvolvimento psíquico.

Creio que essa verdade sobre a vida foi ilustrada de maneira dramática na pesquisa e nos livros sobre a morte e o morrer da Dra. Elizabeth Kubler Ross. O que ela escreve sobre a aceitação da morte parece se aplicar da mesma maneira à aceitação do eu e das realidades da vida. Ambos os atos de aceitação requerem um processo de reações emocionais em que cada uma delas deve ser experienciada inteiramente para que o processo seja completado com sucesso.

A teoria da Dra. Ross é de que o paciente desenganado, depois de saber que sua morte se aproxima, raramente é capaz de aceitar esse fato imediata e completamente. Ele deve passar por várias fases, a primeira das quais de negação: 'não, não pode ser comigo'. Incapaz de encarar o fato de que sua vida vai terminar em breve, não aceita a realidade, negando. Quando para de negar, entra num período de raiva e indignação. O seu 'não pode ser comigo' torna-se 'por que eu?'. Sua raiva é contra a luz que se apaga, e esse sentimento se volta contra a equipe do hospital. Na verdade, ele não está dizendo 'a comida está fria… a injeção está doendo'. O que ele diz é: 'você vai viver. Eu vou morrer. Você vai ver seus filhos crescerem e ver seus netos'. Ele se ressente com a equipe do hospital, não pelas razões apresentadas, mas porque os outros estão saudáveis e têm a promessa de continuarem vivendo.

No terceiro estágio, a raiva se mistura a uma posição de barganha. As primeiras barganhas são feitas com o médico: 'não vou fumar nunca mais!'. Depois com Deus: 'vou à igreja todos os domingos'.

O quarto estágio é de resignação e depressão: 'sim, eu, droga! Vou morrer, estou conformado, não quero morrer'. Externamente, o paciente passa por um período de silêncio relutante e de tristeza, mas é nesse estágio que ele confronta a possibilidade de sua morte de maneira mais realista.

O estágio final do processo é de aceitação: 'Vou morrer. Minha missão está cumprida. Estou pronto'. Este estágio é caracterizado externamente por uma paz tranquila e silenciosa". (CONTINUA)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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