Ninguém Causa Emoção em Ninguém (parte 3/5)

Por Luiz Xavier | 02/03/2021 | Tempo de leitura: 3 min

"Estima-se que apenas dez por cento de um iceberg flutuante é visível. Noventa por cento do bloco de gelo permanece submerso abaixo da superfície da água. Uma estimativa semelhante foi sugerida com relação às emoções humanas. Conseguimos ver apenas dez por cento da realidade total. Isso não quer dizer que as pessoas mostram apenas dez por cento de seus sentimentos às outras, mas que elas próprias só estão cientes de uma pequena parcela de suas emoções. Escondemos a maior parte de nossas emoções de nós mesmos através de um mecanismo de defesa denominado repressão.

Naturalmente, é muito comum a não expressão de emoções. Muitas emoções humanas, apesar de reconhecidas inteiramente, nunca são expressas, Por exemplo: 'Ela nunca vai saber que sinto ciúmes'. Há duas razões básicas para que esse sentimento não seja expresso: primeiro, não temos a certeza de sermos compreendidos. As outras pessoas ficariam pensando a nosso respeito e poderiam questionar nossa sanidade ou nossa integridade. Essa dúvida atinge aquela nossa área sensível, o centro do comportamento e da existência humana: nossa autoimagem e, consequentemente, nossa auto aceitação (autoestima). A segunda razão possível para a não expressão das emoções é ainda mais amedrontadora. Temo que minhas 'confissões emocionais' possam ser usadas contra mim, voluntária ou involuntariamente. Você pode me 'jogar coisas na cara' mais tarde, e mesmo se não o fizer explicitamente, vou estar sempre me perguntando se você está com pena de mim, com medo, me julgando ou distante da minha pessoa por causa dos sentimentos que confidenciei a você.

Já não é bom quando não expressamos emoções, mas pior ainda, mais destrutivo, é quando as reprimimos no inconsciente. Sabemos que existe urna dor em nós quando reprimimos nossos senti­mentos mais verdadeiros, mas não sabemos por que. Escondemos a fonte da dor na prisão do inconsciente. Infelizmente, as emoções reprimidas não morrem. Recusam-se a permanecer em silêncio. Influenciam insistentemente toda a nossa personalidade e os nossos comportamentos. Por exemplo, uma pessoa que reprime sentimentos de culpa passa toda a vida tentando se punir, ainda que inconscientemente. Ela jamais vai se permitir ser bem sucedida ou ter alegrias. Medos e raivas reprimidos podem se extravasar fisicamente, por exemplo, através de insônia, dores de cabeça, úlceras ou depressão. Se esses medos ou raivas fo­rem expressos à outra pessoa, não haverá necessidade de falta de sono, dores de cabeça tensionais ou úlceras.

Há três motivos gerais para essa repressão emocional. Enterramos emoções indesejáveis porque: l) Os ensinamentos de nossos pais, que escutamos como uma doutrina desde cedo, continua, como uma fita gravada, presentes em nós. Uma criança educada numa família onde não há o hábito de se expressar emoções, tende a reprimir os sentimentos. 2) 'Moralizamos' nossas emoções: tendemos a rotular certas emoções de 'boas ou más'. Por exemplo: 'é bom sentir-se grato a alguém, mas ruim sentir raiva ou ciúme'. Isso é uma tolice, mas os pais geralmente dizem a seus filhos: 'você não pode sentir-se assim' ou 'você não devia ficar com raiva' ou 'você devia ter pena dele'. 3) Um outro fator que nos leva a negar certos sentimentos validos é o conflito de valores. Por exemplo, se 'ser homem' for um elemento importante de minha identidade e autoimagem, algumas emoções serão certamente consideradas prejudiciais a essa imagem, então eu as reprimo". (CONTINUA)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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