Ciúme: dor de uma ferida antiga que está sendo atacada

Por Francisco Ometto | 01/03/2021 | Tempo de leitura: 3 min

“Meu Senhor, livrai-me do ciúme! É um monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Quão felizardo é o enganado que, cônscio de o ser, não ama a sua infiel! Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, duvida, e, suspeitando, adora”. (William Shakespeare)

Seria o prelúdio de uma relação sadomasoquista? Opressão ou submissão?

O ciúme… você sente? Já sentiu? Calma, nem todo ciumento é doente! Mas essa “oração”, do mais influente dramaturgo do mundo, deve ser considerada.

Em palestras onde falo sobre relacionamento e ciúme, ou para quem me procura na terapia, deixo sempre claro que todos nós certamente já sentimos ciúme em algum momento da vida. São dois os tipos: o saudável e o patológico (ou obsessivo). O primeiro é um sentimento que não atrapalha, não controla nem prejudica a vida do outro ou a sua.

O “problema” (patológico/obsessivo, chamado também de Transtorno Delirante Paranoico, segundo o DSM - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), começa a aparecer quando faz a pessoa sofrer, faz “perseguir” os atos do parceiro através de clonagens de celular, rastreadores de veículos, investigações do cheiro nas roupas, lançamentos no cartão de crédito, desconfiança excessiva, enfim, a lista é grande… O que acontece, na verdade, é um sentimento ruim que mescla insegurança, medo e comparação. Você sente que vai perder algo que “considera” seu. Bom, aqui já cabe uma correção, dupla: ninguém é de ninguém (por mais que te falem o contrário, não acredite, por favor!); e você não pode precisar de alguém para ser feliz. Portanto, enquanto você não entende essa dinâmica, você não é livre numa relação. Lembre-se: liberdade e confiança são os principais alimentos de uma relação saudável.

Um grande amigo meu, Dinael Campos, Doutor em Psicologia e autor de vários livros de sucesso, o qual tenho o prazer de receber em minha casa periodicamente para conversas edificantes, diz com muita propriedade: “Cada um escolhe com o que e o quanto quer sofrer!”. Entenda: é uma escolha, ok? Retirando-se da análise as doenças mentais devidamente diagnosticadas, trata-se, então, de livre arbítrio.

Mas, e a ferida do título de hoje? Ninguém é ciumento patologicamente “à toa”. Existem causas e elas estão diretamente ligadas às feridas ocorridas e não curadas em diversas fases da história psíquica da pessoa, causando prejuízos nos campos da identidade / merecimento / capacidade. Outras feridas estão ligadas a traumas dos mais variados e que na maioria das vezes têm como causa algum tipo de abandono, traição, frustração. Existem ainda outras feridas, mas o fato é que, enquanto elas estiverem abertas, a qualquer situação próxima da vivida (consciente ou não), a pessoa sofre, poisessas feridas antigas são “atacadas/provocadas” e há consequências nos pensamentos, sentimentos e atitudes, sem contar a somatização, que leva a tantas doenças, já catalogadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Portanto, a cura está na descoberta dessas feridas e no tratamento correto, o que leva o paciente à liberdade. Se você sofre, sente dificuldade ou necessidade de um entendimento maior sobre este tema, busque ajuda profissional.
“Quem é controlado pelo ciúme, inveja, raiva, medo, ansiedade vive num cárcere emocional, numa masmorra psíquica, é refém dos seus traumas e conflitos”. (Augusto Cury).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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