História: conhecer para cuidar

Por Rosângela Camolese | 18/02/2021 | Tempo de leitura: 2 min

Todo respeito é pouco, quando tratamos de bens de valor histórico, particularmente aqueles que são tombados. Dia desses, dois acervos guardados no Engenho Central foram alvos de certa controvérsia: objetos do Museu Prudente de Moraes e a massa documental referente à Societè Sucrérie Brésilienne, Refinadora Paulista de Açúcar que envolve documentos das Usinas de Monte Alegre - Piracicaba, Ribeirão Preto, Araraquara e Usina Brasileira de Açúcar S/A referente às usinas do Engenho Central de Piracicaba, de Rafard e de Lorena.

Desconhecer os fatos, num primeiro momento, leva a achar que os objetos “amontoados” do Museu Prudente de Moraes estão subjugados à displicência. No entanto, trata-se de objetos administrativos de uso comum – mesas, cadeiras, armários e expositores, utilizados antes da reestruturação do Museu em 2009, sem importância histórica mas, mesmo assim, guardados em espaço fechado com tranca, extintores, proteção de tela no teto e janelas, conforme consta em relatório que está no próprio Museu.

Ao pensar em usar esses móveis, constatou-se, na finalização do processo de municipalização do Museu via Estado, em dezembro de 2018, que eles foram inventariados e doados ao município como acervo histórico, sem que realmente o fossem. O Estado foi informado e está providenciando a correção da doação.

Também fica o alerta para o tratamento a ser dado aos acervos da Societè Sucrérie Brésilienne, Refinadora Paulista de Açúcar e Usina Brasileira de Açúcar que contém documentos, plantas e fotografias datadas de 1880 a 1990. Estes são de interesse público e tem valor inestimável, uma vez que retratam o processo socioeconômico decorrente das atividades agroindustriais e fundiárias paulista, relevantes para a indústria metalmecânica brasileira, pouquíssimo explorado por pesquisadores e historiadores até agora.

Dada a sua importância, este acervo foi doado ao município, em comum acordo com o Condephaat e Codepac, órgãos de preservação estadual e municipal, pelos empresários Roberto Alvarez e José Luiz Guidotti Junior, em 2019. Naquele momento eles se encontravam em prédios adquiridos pelos empresários, no bairro Monte Alegre, sujeitos à umidade, fuligem, excrementos de animais e intempéries.

Ano passado, iniciou-se a formatação de um projeto de captação de recursos para dar andamento ao processo de triagem, inventário, higienização, catalogação e digitalização dos documentos para serem disponibilizados para consulta. Este seria realizado por equipe técnica qualificada sob a coordenação de um arquivista, utilizando equipamentos adequados e posterior guarda em espaço já restaurado especificamente para este fim, no próprio Engenho Central.

Das informações contidas nesse acervo, não há dados relevantes apenas de interesse local. Eles são de inestimável valor estadual e nacional. Ratificamos ser de suma importância conhecer os relatórios e levantamentos de dados acordados entre órgãos competentes, antes de qualquer decisão, precavendo prejuízos históricos. Intervenções em patrimônios tombados, devem ser submetidas à aprovação dos órgãos competentes evitando futuras sanções.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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