Abismo

Por José Faganello | 20/01/2021 | Tempo de leitura: 3 min

“Entramos numa corrida entre educação e catástrofe”. (H. G. Wells – A Cinza do Purgatório).

Por abismo entende-se profundidade insondável; um precipício profundo; sorvedouro. Figurativamente, também essa palavra é usada para aquilo que divide e separa profundamente: o que desconcerta o espírito por sua imensidão ou seu mistério.

Quando se usava e abusava das metáforas, em minha opinião, em geral dando um sabor especial ao texto, era comum ler-se: “O coração humano, muitas vezes, é um abismo de maldade”; ou, “O Brasil está na beira do abismo”.

Cheguei a ler num texto prenhe de pessimismo um ato falho do articulista que afirmava ser imprescindível o Brasil sair de seu marasmo e, para tanto, era necessário dar o primeiro passo para frente, rumo a um futuro melhor; se assim fizesse despencaria no abismo.

Era adolescente ainda quando vi essa frase e só posso acreditar que ao dar esse passo nosso país por seu tamanho não coube no abismo e pôde avançar, infelizmente, não no ritmo de muitos outros que nos deixaram para trás.

A moderna astronomia nos ensina que há abismos siderais, os misteriosos buracos negros. Eles, se de fato tem a propriedade de tudo, o que passar por perto, sugar, são uma ameaça a todos os astros que percorrem o espaço sideral.

Nós estamos por demais longe do mais próximo, portanto não corremos risco, entre nós e eles há um abismo de distância, que acredito, continuará inalterável para nossos descendentes, pois se a Terra se desloca em direção a algum deles, eles com certeza, também se afastam de nós.

Nos oceanos, as chamadas fossas abissais com mais de 5.000 metros de profundidade, é a região menos conhecida de nosso planeta. Escuridão, frio e pressão provocada pelo enorme peso das águas oceânicas são suas características principais. Curioso, mesmo assim, alguns animais se adaptaram a esse ambiente.

Como os abismos são insondáveis é temerário tecer qualquer comentário sobre eles. Há, no entanto, abismos dos quais podemos comentar.

Sem dúvida, é trágica a situação daquelas pessoas que estão nas profundezas do fanatismo, seja ele qual for. Como sempre haverá uma maioria que não pensa como eles, a insatisfação deles será perpétua e se pautarão sob a égide do ódio e da violência.

O Brasil passou da fase de estar à beira do abismo. Mesmo na época que era comum ouvir esse comentário, havia otimista e um deles nem brasileiro era, o austríaco, Stevan Zwain profetizou: “O Brasil é o país do futuro”. Esse futuro nem eu, nem meus netos, calculo, alcançaremos, pois para se chegar a ele há um abismo que até agora se mostra intransponível.

Os romanos tinham uma frase: “Abyssus Abyssum invocat”. Significa – o abismo chama o abismo, no sentindo de que o mal atrai o mal.

O abismo que nos separa de um futuro radioso é o estagio no qual nos encontramos em relação à educação.

Para se ter uma idéia, a China com espantosos problemas, basta dizer que abriga uma população de 1,3 bilhões de habitantes; imaginem fornecer moradia, comida e estudo a toda essa gente; no entanto, ficou em 1° lugar em leitura, matemática e ciência.

Essa nossa defasagem educacional, sem dúvida, está cavando um perigoso abismo que nos afastará cada vez mais daqueles que conseguiram solucionar seu problema educacional.

Como um abismo atrai outro abismo, o mau exemplo dado por nossos dirigentes dos três níveis: Legislativo, Executivo e Judiciário, com indecentes privilégios mantidos a custa de pesados impostos, só pode degradar o espírito republicano da igualdade, liberdade e fraternidade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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