Hoje trago um tema um tanto recorrente no meu consultório: o sentir-se mal em ser elogiado. Parece estranho, mas é muito comum essa situação vivida por algumas pessoas. Acompanhem o artigo da jornalista Amanda Massarana: “Alguns se sentem constrangidos, não-merecedores e poucos aceitam e se orgulham dele. O elogio, em um primeiro momento, representa algo positivo e deveria ser visto com bons olhos, mas a verdade é que muitas pessoas se sentem desconfortáveis ao confrontá-lo.
Essa sensação pode surgir a partir de diversas questões individuais. Uma delas é a autoimagem negativa, de acordo com a psicóloga Claudia Lins Cardoso. ‘Podem ser pessoas que não foram suficientemente valorizadas e, então, não acreditam quando o outro elogia.
Existe também o fato de você se enxergar em uma posição que corresponde demasiadamente a algo que você quer ou gostaria de ser ou estar, como explica o psicólogo Christian Ingo Lenz Dunker: ‘nossa gramática amorosa está muito regulada pela falta. ‘Gosto de você, mas poderia ser melhor, mais inteligente, mais rico, mais bonito’. Quando alguém faz um elogio, a gente perde a posição de ‘o que falta para o outro gostar de mim.
Pode parecer um tanto paradoxal enxergar isso desta perspectiva, mas a pessoa nessa posição fica desorientada. Não é fácil estar ali mais como objeto do que como sujeito da situação, não é fácil suportar ser amado. Então, diante de um grande elogio, a pessoa comenta, quase defensivamente, ‘são seus olhos’ ou ‘foi sorte, destino, o acaso, você está exagerando’, e assim ela, no fundo, reintroduz o sentimento de que lhe falta alguma coisa.
Por outro lado, muitas pessoas sentem o elogio como um potencial início de inveja. Veem tudo isso como uma ameaça e um alerta para a cobiça. Nesse caso, uma resposta comum de quem enxerga o elogio dessa forma seria questionar o que a outra pessoa está querendo com esse elogio.
Em nossa cultura é muito comum valorizar mais o fracasso do que o sucesso, dizer o que está errado ao invés do que está certo. Apontar a parte que falta em detrimento da parte que foi feita. Se alguém se auto afirmar abertamente como um excelente profissional, qualquer um pensaria que essa pessoa é arrogante. A nossa cultura prima muito mais ser negativo do que positivo. Ficamos sem graça em reconhecer que somos bons em algo, representa falta de humildade.
Essa cobrança por sermos extremamente humildes pode vir da nossa cultura majoritariamente católica. ‘É diferente em um universo que tem a competição e o mérito como algo mais individualizado do que o contrário, como algo mais coletivo, como é o nosso caso’, diz Dunker.
Basta assistir a uma entrevista com os jogadores de futebol após vencerem um jogo. Por mais que algum jogador tenha se destacado muito além do que os outros na partida, ele sempre irá afi rmar que a vitória é do time, do grupo, do coletivo. ‘O arrogante é quem diz que conseguiu aquilo por seus próprios méritos. Nós valorizamos aqueles que coletivizam seus próprios méritos’, completa ele.
Para muitas pessoas, por mais desconfortáveis que possamos ficar com um elogio, o correto seja só agradecer e pronto. Porém, essa não é necessariamente a saída, pois com esse recurso não iremos, de fato, entender o porquê dessa sensação ruim e como isso pode estar nos afetando. ‘A primeira ação é reconhecer o que tem de complicado em receber um elogio. Só agradecer não vai resignificar nada’, diz Cardoso.