A consciência

Por José Faganello | 02/12/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Quando a consciência nos acusa, o interesse ordinariamente nos defende”.
(Marquês de Maricá)

Por consciência, a maioria das pessoas entende a faculdade de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados, ou seja, distinguir o bem do mal. Disto resulta o sentimento do dever a ser executado ou a interdição de se praticar determinados atos. Ela, atentamente, sempre estará aprovando-nos ou nos enchendo de remorsos.

Para muitos, ela é a presença de Deus nos homens; para outros, um conceito inventado pelos fracos e covardes, com intuito de incutir medo aos destemidos.
Existe aquele rotulado de sem consciência. Ele jamais se preocupa com seus atos e, como nunca usa sua consciência, afirma que a tem limpa.

Outros se atormentam na vã tentativa de não julgarem-se, continuamente, condenados por ela. De cada ato praticado sentem-se o vilão condenado. Vejamos este exemplo: “O Morcego/ Meia-noite. Ao meu quarto me recolho./Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: / Na bruta ardência orgânica da sede/ morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

“Vou mandar levantar outra parede…” / - Digo. Ergo-me a tremer, fecho o ferrolho/ E olho o teto. E vejo-o ainda igual a um olho, / circulante sobre minha rede.

Pego de um pau. Esforço faço. Chego a tocá-lo. Minha alma se concentra/ Que ventre produziu tão feio parto?!”

A consciência humana é este morcego!/ Por mais que a gente faça, à noite, ele entra/ Impreterivelmente em nosso quarto”.

Este soneto é de Augusto dos Anjos, produto, sem dúvida, de seu temperamento nervoso e solitário, aliado às dificuldades financeiras. Usa o morcego, animal, no consenso popular, repulsivo, que provoca asco, quando não, injustificável temor, para tentar traduzir a tortura que lhe causava sua consciência.

Augusto dos Anjos, nascido na Paraíba, formou-se em Direito em Recife, mas sua formação real deu-se na biblioteca do pai, onde, precocemente, leu os principais escritores, cientistas e filósofos de seu tempo.

Apesar de sua cultura, vivia com um salário miserável de professor do Ginásio Nacional e Escola Normal do Rio de Janeiro e não tinha o merecido reconhecimento de seus contemporâneos. Publicou um único livro: “Eu”, de onde tirei o soneto acima. Não teve, na época, nenhuma repercusão. Mais tarde, muito tempo depois de sua morte, caiu no agrado popular.

Certamente a insônia era sua companheira constante. Dava-lhe tempo de sobra para os mais variados tipos de pensamentos negativos a assombrarem, quais morcegos ameaçadores, suas insones noitadas.

Segundo o Marques de Maricá, quando a consciência nos acusa, o interesse nos defende. Com ele, não havia interesse em jogo. Seu insucesso financeiro e sua monótona vida de magistério, não permitiam, com certeza, pecados na área econômica, ou mesmo, grandes falhas de conduta. Sem a possibilidade de ter o interesse como defensor, pois não cometia atos indignos a ele ligados, sobrava-lhe a consciência a acusá-lo, quem sabe do que?

Com toda a leitura que fez, não deve ter lido Nietzsche e Freud. Neles, veria que aquilo que aparenta ser verdade é uma mera interpretação.

Não existe verdade absoluta e cada época, cada cultura, até mesmo cada indivíduo vê e julga o falso e o verdadeiro sobre prismas diferentes.

Mesmo assim, convenhamos ninguém está imune à consciência a acicatar-lhe importunamente.

É por isso que a sabedoria popular setenciou: “O melhor travesseiro é uma consciência tranqüila” e o imortal Cícero completou: “A vida feliz consiste na tranqüilidade da mente”.

No momento estamos sem condições de tranquilidade a começar por aqueles que nos governam e boa parte só dão mau exemplo.

Pior ainda é a Pandemia de CORONAVÍRUS que ceifa sem escolher, deixando-nos sobresaltados.

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