
publicado em 07/11/2020 às 0h53
atualizado em 07/11/2020 às 15h
Dezoito candidatos à Câmara de Piracicaba, com patrimônio superior a R$ 300 mil, receberam pelo menos uma parcela do auxílio emergencial, criado para ajudar famílias em situação de vulnerabilidade social durante a pandemia da Covid-19. Dois dos 17 milionários que se candidataram ao Legislativo municipal também figuram na lista, divulgada sexta-feira (6), pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O advogado Agnaldo Benedito de Oliveira, o Guina (Podemos), cujo patrimônio soma R$ 1,04 milhão, recebeu auxílio residual de R$ 300, enquanto o empresário João Marcelo Vicentin (PSL), que declarou R$ 1,6 milhão em bens, recebeu auxílio emergencial de R$ 600.
No início da pandemia, a lei que criou o auxílio emergencial não estabeleceu restrições formais quanto ao valor do patrimônio dos beneficiários, mas uma medida provisória, editada em setembro, estipulou que o auxílio residual não será devido a quem tenha declarado bens de até R$ 300 mil em 31 de dezembro de 2019. “Causa perplexidade imaginar que alguém que tenha patrimônio dessa monta ainda assim se disponha a solicitar o recebimento de auxílio emergencial e possa vir a ser eleito e gerir a coisa pública e a vida em comunidade”, disse o ministro do TCU, Bruno Dantas, relator do processo.
Em seu site, o TCU alerta que os resultados são apenas indício de renda incompatível com o benefício e que há risco de erro de preenchimento pelo candidato. Além disso, o Tribunal não descarta a possibilidade de fraudes estruturadas com dados de terceiros. Por fim, o TCU ressalta que só o Ministério da Cidadania pode confirmar se o pagamento é indevido e que apenas o Tribunal Superior Eleitoral pode confirmar eventuais crimes eleitorais.
A reportagem do Jornal de Piracicaba tentou contato com os 18 candidatos para ouvi-los sobre as informações do Tribunal. Oito deles se manifestaram, sendo que um já havia renunciado à candidatura. Os dois com patrimônio superior a R$ 1 milhão não foram encontrados.
OUTRO LADO
A candidata Ana Galdino de Lima Fausto, a Ana do Mercadinho (Cidadania), confirmou ter recebido o auxílio emergencial em função de dificuldades financeiras no início da pandemia. A instrutora de trânsito, Débora Custódio, Débora da Auto Escola (PSL), também afirmou ter recorrido ao auxílio, por ter ficado sem trabalho durante o isolamento social.
Em comentário na página do JP nas redes sociais, a candidata Cláudia Regina Fuzaro, Calau Fuzaro (Patriota), afirmou ter perdido todos os contratos de trabalho em março. Ela também destacou que, além do auxílio emergencial, teve de recorrer à ajuda de parentes.
O pastor Edilson Alves, Edilson de Madureira (PSL), afirmou ter recebido o benefício por ter ficado cinco meses sem recursos. Ele destaca que a empresa dele, que presta serviços ao Detran, ficou paralisada por conta da pandemia.
O candidato Luis Americo Chittolina (Patriota) explicou ter recorrido ao auxílio emergencial por não possuir renda fixa. Normalmente, os rendimentos dele são provenientes de carretos e do aluguel de uma chácara para eventos. Ele destaca, no entanto, que essas duas atividades foram prejudicadas.
Também em resposta ao JP, o candidato Moacir Rosa da Silva, o Tico (PL), afirmou estar desempregado, se enquadrando em todas as exigências para o recebimento do benefício. “Fiz tudo dentro da lei, tudo correto”, disse.
A cantora Sirlene dos Santos Martins, Xis Martins (PL), explicou que a casa registrada no nome dela é utilizada pelo ex-marido e pelos filhos. Ela vive de aluguel e destaca ainda que, em função da pandemia, ficou sem renda por diversos meses, precisando recorrer ao auxílio do governo federal.
O autônomo Marcello Ricardo Sanches (PSB), que é vendedor online, explicou ter renunciado à candidatura em setembro. Além disso, ele ressaltou que, assim como a mulher, que é artesã, ficou sem renda durante a pandemia. Por fim, explicou que a casa dele, no valor de R$ 400 mil, é financiada.
Listamos os nomes dos candidatos, seguidos do valor declarado à Justiça Eleitoral e do tipo de auxílio recebido (emergencial ou residual).
João Marcelo Vicentin – R$ 1,6 milhão (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Guina – R$ 1,04 milhão (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Edilson de Madureira – R$ 950 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Chittolina – R$ 845 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Xis Martins – R$ 815 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Luiz Carlos Matarazzo – R$ 800 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Calau Fuzaro – R$ 600 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Fernanda Diogo – R$ 540 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Marcello Ricardo Sanches – R$ 444 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
João Liberato da Silva Filho – R$ 408 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio emergencial);
Cristiano Paulo Nardon – R$ 380 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Cláudia Nascimento – R$ 350 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Débora Custódio – R$ 330 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Ana do Mercadinho – R$ 323 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Cesár André – R$ 316 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Tico – R$ 305 mil (patrimônio declarado) – R$ 300 (auxílio residual);
Chantecler – R$ 305 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial);
Ricardo J Forti – R$ 300 mil (patrimônio declarado) – R$ 600 (auxílio emergencial)
Ana Carolina Leal
ana.carolina@jpjornal.com.br