Qual é o rumo?

Por José Faganello | 28/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min

*As trevas escondem o acontecimento futuro” (Teógines de Mégara).

Há aqueles que garantem que a economia mundial está sujeita a repetições periódicas com intervalos regulares. Afirmam ainda que atreladas a ela, outras áreas ligadas ao homem também sofrem o mesmo processo. Outros, munidos de dados históricos, contestam, afirmando que a história, como os organismos vivos, tem um início, um desenvolvimento e um fim. Este início pode ser inexpressivo, ganhando alento à medida que o tempo passa. Este desenvolvimento às vezes é retilíneo, sempre para cima, até atingir o apogeu; outras vezes, cheio de altos e baixos até a queda final. Mesmo quando a queda que parece definitiva acontece, qual brasileiro encoberto, manter dormindo um pouco de chama que, repentinamente se aviva e torna a brilhar.

Dentro desse prisma, nos impressiona o séc. XV e XVI. O início da idade moderna foi marcado pela ocorrência de uma série de transformações em todos os ramos da vida do homem europeu. As novas necessidades materiais desencadearam uma nova forma de agir e de pensar. O Renascimento foi, de fato, um renascer em tudo.

A Itália, berço desse movimento, com suas principais cidades, Veneza, Florença, Milão, Roma e Nápoles, atraiu centenas de artistas, homens de ciência e intelectuais, os quais eram patrocinados por mecenas, interessados em promover a cultura ou a si mesmos.

Posteriormente ao Renascimento, outros surtos culturais aconteceram. O Iluminismo, radiculado nas doutrinas econômicas e a Revolução Industrial com as doutrinas sociais, provocaram lufadas de novas idéias, de novo pensar.

Após a Revolução Industrial o avanço econômico e tecnológico desenvolveram-se de forma tão espantosamente rápida que fez com que as invenções não possam mais ser acompanhadas pelo avanço cultural. Nossos hábitos de pensamento e de vida, tão solidamente estabelecidos, tornam difícil nosso enquadramento na nova realidade. Em que cremos, o que sentimos ou fazemos, está em contradição com o que pensamos e ensinamos.

O mundo da eletrônica, dos supersônicos, das naves espaciais, é totalmente diferente do mundo que nos é familiar, cuja cultura assimilamos e tentamos transmitir. A própria história amarrada à epopeia da raça branca, herdeira do humanismo greco-romano, dos grandes descobridores, não se interessa pelo “resto”. Os currículos escolares ainda estão presos ao ensino clássico, quer nas exatas, quer nas humanas. Continuam preservados até o extremo limite do possível tornando-os mais destruidores do que iluminadores.

Enquanto em torno de nós tudo mudou, não conseguimos remover este enorme corpo que continua a flutuar, respirando com extrema dificuldade, vítima do novo dilúvio que se chama cultura universal.

Sinceramente é difícil conviver com aquilo que não conseguimos ou não queremos entender. A história já não é a nossa história, o pensamento não é o nosso pensamento e, principalmente a arte não é a nossa arte.

Aguardemos que nossas escolas adéquem se. Que formem uma nova classe de sábios preparados por uma educação ajustada, sem se dedicar a cultura especial de nenhum ramo particular da filosofia e sim considerando as diversas ciências no seu estado atual e preocupada em descobrir o encadeamento, reunir todos os fios, porque apesar de vindos de direções diferentes, não deixam de apresentar os mesmos elos. A especialização crescente afasta, cada vez mais, de toda imagem ordenada do real.

Estamos em uma época de enormes mutações. Tudo indica que é o fim de mais um ciclo. Pelo jeito, fim do ciclo econômico, político e cultural. Parece que nossa época fechou o círculo de todos os monstros em torno de nosso abandono. Do Deus morto, da razão rejeitada, de uma história e de um cosmo ininteligíveis, surge uma sombra (a Covid-19) onde se revela o nosso nada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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