Não fique só na solidão

Por Francisco Ometto | 19/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Amor são duas solidões, protegendo-se uma à outra” (Rainer Maria Rilke).
Se você sofre com a solidão ou conhece alguém que sofre, ler este artigo será imprescindível para se ajudar ou ajudar alguém que precisa.

Inicialmente faço uma pergunta ao meu leitor: você acha que há relação entre amor e solidão? Numa primeira resposta, certamente muitos irão achar que um exclui o outro, que quando há amor não há solidão, e que quando há solidão é porque não há amor. Uma das causas desse engano é porque fomos ensinados a acreditar nos contos de fadas, no famoso “foram felizes para sempre”, ou então nas “metades das laranjas”. É possível ser feliz no amor? É possível ser feliz sozinho? Sim, para as duas questões! Mas não do jeito que a humanidade está fazendo!

Inicialmente, é preciso compreender que, se você não for capaz de estar sozinho, também não será capaz de estar na frequência do amor. Muitos “amores” são apenas uma tentativa de fuga de si mesmo ou de busca de um “apêndice” de si mesmo no outro. Se você não se relaciona bem com você mesmo, como quer se relacionar bem com alguém? Muitos “amores” são apenas enganações mútuas: um tentando fugir de si, o outro tentando escapar dele mesmo e os dois procurando “abrigo” um no outro. Antes de mais nada, é preciso coragem para se buscar, se encontrar, encarar e resolver o “vazio” interno que grita sempre que você não está “escondido” ou “fugindo” de você mesmo na rotina estressante ou nas paixões do dia a dia, afinal, se deparar com a voz interior é angustiante, mas paradoxalmente, libertador, mesmo porque só consegue amar de verdade quem passa por esta fase. Não é à toa que muitos relacionamentos estão definhando, não é à toa que tantos estão infelizes, não é à toa que a solidão está devastando a vida de muita gente, inclusive de gente que está cercada de muita gente.

Veja, caro leitor, que esse drama não encontra endereço apenas em relacionamentos, sejam pessoais ou profissionais. Quando vemos alguém “anunciar” nas redes sociais uma vida que não vive, ou tenta focar (a si mesmo) apenas “um lado” de sua realidade, evitando a todo custo encarar e resolver o lado obscuro (mas vivo em sua vida), temos aí o que chamamos na Psicanálise de “tamponar” algo e, para quem não sabe, isso nunca acaba bem. É um vírus que vai corroendo a vida da pessoa aos poucos, de diversas formas.

Antes de ser dois, precisamos ser um. Antes de buscar amor em outra pessoa, precisamos buscar o amor em nós mesmos.

A palavra “Indivíduo”, etimologicamente, significa “que não se divide”, ou seja, você é um, e o outro é outra pessoa. Ninguém vive a vida de ninguém. Portanto, não somos metade de nada! Quando alguém te reduz ou reduz sua vida, ou não te respeita, isso pode ser tudo, menos amor. Sabe por quê? Porque quem age assim simplesmente não se ama.

Como nos ensina a filosofia, mais precisamente a Socrática, não há forma de se ter uma vida feliz sem um verdadeiro encontro consigo mesmo, ou seja, autoconhecimento. É preciso encarar a própria solidão, transformando-a em solitude e, então, resolver os conflitos internos, o vazio existencial.

“O amor e a solidão sempre andam juntos; não são dois contrários, mas como que dois reflexos de uma mesma luz que é viver”. (André Comte-Sponville).

Leia Mais:

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.