Cassiano Ricardo

Por José Faganello | 14/10/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“… O poeta é um ser alado e sagrado, todo leveza, e somente capaz de compor quando saturado do deus e fora do juízo, e no ponto, até, em que perde de todo o senso. Enquanto não atinge esse estado, qualquer pessoa é incapaz de compor versos ou de vaticinar” (Platão).

Cassiano Ricardo nasceu em São José dos Campos em 1895. Filho de modestos lavradores, já aos dez anos queria ser poeta e jornalista.

Dos poetas que li, ele foi um que muito me impressionou. Tomei conhecimento de suas poesias quando estava no colegial e estudava em Lavrinhas, no Vale do Paraíba, portanto não muito distante da cidade natal dele.

Meu gosto pela literatura foi turbinado pelo primeiro livro de Monteiro Lobato, que li ainda na infância.

As obras literárias são a melhor expressão do espírito humano, pois contêm excelente qualidade estética e são capazes de perdurarem ao longo do tempo, sem perder seu valor e sua invejável atração.

A imprensa, no término do século 20, começou a publicar os melhores representantes de diversas categorias: melhores filmes, músicas, jogadores de futebol, romances mundiais, brasileiros etc.

A maioria, incluindo os intelectuais, não teve a oportunidade de ler a maior parte dos livros elencados, por não ter acesso.

Acredito que se houver uma pesquisa abrangendo leitores em geral, muitos irão afirmar que não entenderam e não gostaram dos livros consagrados que leu e, muitas vezes, largou a leitura no meio. Não há consenso quando se trata de gosto, especialmente de gosto literário.

Há aqueles que dizem não apreciar determinados autores excomungados pela crítica literária e elogiam Ulisses de James Joyce, mesmo que nada tenham entendido da leitura feita.

Fiz esta introdução para dizer que entre os poetas que li, pela ordem, os que mais me emocionaram foram Homero, Virgílio, Horácio, Shakespeare, Neruda, Fernando Pessoa, Dante Alighieri; dos brasileiros há uma lista grande, cito em especial, Casemiro de Abreu, Castro Alves, Olavo Bilac, Drummond, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo.

Evidentemente há outros, mas o espaço não me permite citá-los e comentar o porquê da preferência, Casemiro de Abreu, por exemplo, me emocionou ainda na minha infância assim como Gonçalves Dias com seu indianismo, Castro Alves pelo elaborado vocabulário, rimas ricas, citações espetaculares e a causa que abraçou sem temor, combater a escravidão. Cassiano Ricardo é pouco citado, por isso a maioria dos jovens nunca leu nada sobre ele, mas quando tomei conhecimento de sua poesia, me amarrei, pois, descobri em seus versos o que sua poesia trás: dizer em poucas palavras o que a prosa não consegue fazer; causaram-me uma espécie de transe ou alumbramento; ele soube olhar o mundo como um apaixonado olha para a mulher de sua paixão; me proporcionou prazer e foi um professor de esperança e de deslumbramento pela natureza de nosso país.

Não posso encerrar sem colocar alguns versos de Cassiano Ricardo. Nesses, ele conseguiu explicitar o ato da luxúria com classe: “E tão grande há de ser nossa luta/ Sobre o leito trançado de cipós,/ que a noite cairá pesada e bruta,/ suando pingos de estrelas sobre nós” e estes sobre os bandeirantes: “As mais memoráveis façanhas/ Talvez tenham sido/ As que a morte apagou sorrateira/ Ao deixar num chão de folhas/ Um cadáver sem história”.

Coloquei esse tema porque ao terminar as partidas de Bocha no Clube de Campo, dois colegas solicitaram que não escrevesse artigos soturnos, coisas que precisam serem expostas. Pediram poesia que, aliás vou entremear.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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