Maniqueísmo Tupiniquim

Por José Faganello | 23/09/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Maniqueísmo ou dualismo aparece, historicamente, como base ao mito da criação da religião de Zoroastro, fundada por volta de 1000 a.C. Ela apresenta a luta entre o bem e o mal, com mais sucessos para os seguidores do mal, mas com a vitória final do bem, no fim dos tempos. A batalha entre o bem e o mal, Deus e Satanás, figura em muitas doutrinas religiosas.

A dualidade não surge apenas no campo religioso, é paradigma para inúmeros sistemas filosóficos.

Citar exemplos é sempre problemático, pois são muitos os que ficam de fora e, às vezes, merecem mais do que aqueles citados. Destacar essa ou aquela figura em nossa história é complicado devido à dicotomia sempre presente – um pequeno grupo de privilegiados explorando a maioria de explorados.

Em todo o caso imensa podemos citar três figuras que lutaram de fato para melhorar as condições do Brasil, portanto de seu povo e, por este motivo, foram combatidos, sabotados, um deles foi morto, e o outro se suicidou.

O primeiro foi Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, nascido no Ceará e falecido em Alagoas em 1917. De origem modesta foi para Pernambuco, onde exerceu várias profissões. Enriqueceu-se com o comércio de peles, podendo dedicar-se a vários empreendimentos de vulto, chegando a tornar-se proprietário da maior refinaria de açúcar da América do Sul.

Aos 40 anos seus negócios deram para trás, mudou-se para um lugarejo chamado Pedra, perto do rio São Francisco, no Sertão Alagoano. Voltou ao negócio de peles conseguindo reerguer-se economicamente. Empreendeu um grande plano de aproveitamento do rio São Francisco. Captou suas águas e as utilizou para movimentar geradores elétricos. Fundou uma fábrica de linhas para costura, construiu alojamentos para operários, abriu estradas, dotou de toda sorte de melhoramentos sociais a paupérrima Vila que lá havia. Apesar de pressionado a vender a fábrica que fazia concorrências ás multinacionais, recusou-se. Foi assassinado.

O segundo foi Irineu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá. Órfão de pai aos nove anos, não foi aceito pelo padrasto, a mãe o deu a um tio, capitão de navio de cabotagem. Trouxe-o ao Rio de Janeiro e o deixou aos cuidados de um rico português proprietário de uma mercearia e de fazendas. Como caixeiro (balconista) começou sua nova vida. Não demorou a chegar ao topo da profissão. Aos 15 anos já gozava da total confiança do patrão. Aos 30 anos era um dos mais ricos do Império. Comércio, indústria, estrada de ferro, companhia de iluminação e de navegação e banqueiro foram atividades nas quais, mesmo sabotado pelos áulicos da corte, se destacou. Chegou a controlar 17 empresas, levantando contra ele uma onda de inveja e de sabotagem.

O terceiro foi Getúlio Vargas. Não obstante os anos de ditadura, nos quais arbítrio predominou, a ele devemos uma real mudança em nossa história social. Derrubou a oligarquia cafeeira que pretendia eternizar-se no poder, aproveitando do trabalho de todos em proveito próprio. Deu ao trabalhador a CLT que o tirou do regime de escravidão a que estava submetido. Criou a Petrobrás, empresa que poderia trazer maiores benefícios ao país não fosse a espúria ligação com os governantes. A ele devemos Companhia Siderúrgica Nacional. Houve alguém para ombrear-se a ele?

Pena que a corrupção em nosso país seja genética. Vejam esses versos de 1808, chegada da corte no Brasil: “Quem furta pouco é ladrão, / Quem furta muito é barão. / Quem mais furta e esconde / Passa de barão a visconde. / Furta Azevedo no Paço, / Targine rouba no Erário. / E o povo aflito carrega / Pesada cruz ao calvário”.

Nessa eleição que esperamos que os vencedores sejam probos e possamos gritar UFA, finalmente.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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