“NÃ0 haverá nunca uma porta. Estás dentro/ E o alcácer abarca o universo/ E não tem anverso nem reverso/ Nem externo muro, nem secreto centro./ Não esperes que o rigor de teu caminho/ Que teimosamente se bifurca em outro,/ tenha fim”.
Labirinto é uma palavra grega, talvez de origem egípcia. Refere-se a um edifício ou jardim, cheios de divisões. Na antiguidade eram comuns. Alguns foram imensos. O do Egito, construído perto do Lago Meris, segundo Plínio, possuía 3000 divisões, metade das quais subterrâneas, e foi edificado 1800 anos antes de Cristo. O de Clúsio foi mandado construir pelo Rei Lars Pórsena, para guardar seu túmulo. O de Samos, do qual falam Plínio, Heródoto e Diodoro da Sicília, foi construído por Teodoro, 540 anos antes de Cristo. Henrique II, da Inglaterra, em Woodstock, mandou construir um nos jardins de Hampton Court. O mais famoso de todos é o de Creta. Teria sido construído por Dédalo a mando de Minos, rei de Creta, para servir de prisão ao Minotauro, estranho e sanguinário monstro, com corpo de homem e cabeça de touro, nascido de sua esposa, Pasífae, com um touro que lhe fora dado de presente por Posseidon. O Minutauro alimentava-se de carne humana. Segundo a lenda, devorava cada ano sete moços adolescentes e sete virgens, que lhe eram enviados como tributos. Teseu matou esse monstro, conseguindo sair do labirinto graças a um novelo de linha dado por Ariadne, filha de Minos. Apaixonada por Teseu, acreditou Ter encontrado seu caminho. Triste engano, pois foi abandonada por ele.
Hoje não se constroem mais labirintos intencionalmente. Eles proliferam, no entanto, aos milhares. As grandes metrópoles nada mais são que monstruosos labirintos, aprisionando seus habitantes e devorando-os lentamente, enquanto os enreda cada vez mais na rotina, nos engarrafamentos e os envolve na solidão e na poluição.
O pior labirinto é o espiritual. A vida moderna aliena-nos inapelavelmente. Embora cercados por multidões, a cada dia mais numerosas, isolamo-nos de tal forma que esquecemos quem somos e nos enveredamos, sem um novelo de linha salvador, por caminhos de mortal monotonia. Como o poeta Mário de Sá Carneiro, podemos exclamar: “Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto,
E hoje quando me sinto,
É com saudades de mim”.
O individualismo desapiedado impede qualquer comunhão. Cada um, procurando seu interesse, sem importar-se com o vizinho, busca, inutilmente um caminho que o leve para a satisfação pessoal. Apesar de toda tecnologia, estarrecidos verificamos nosso retorno ao início da humanidade, quando cada um tinha de encontrar a solução para si. A meta confortadora que almejamos, percebemos, está tão distante, tão longe, sem fim.
Dizem que a natureza de quando em quando elimina bastante seres vivos, para não haver impossibilidade de viverem, porque não haverá sustento para tantos.
Com certeza fomos escolhidos para muitos de nós sermos tirados e com morte dolorosa.
Para provar que grande parte de nossos governantes não se preocupam com o povo é só ver o noticiário que mostra as falcatruas praticadas com compras de aparelhos, remédios etc.
O labirinto do Brasil é mais cruel do construído por Dédalo. Nosso foi elaborado por vários que com as leis que fizeram, são tão sutis, quem não tem um bom advogado, não será inocentado.
E o que dizer do “Foro Privilegiado”? No nosso caso substitui o novelo de linha dado por Ariadne ao filho de Minos.