Educação brasileira na pandemia

Por Érica Gorga | 08/09/2020 | Tempo de leitura: 2 min

A pandemia do coronavírus produziu efeitos gravíssimos para a educação brasileira. Foram 44 milhões de crianças e adolescentes que deixaram as salas de aula e a rotina escolar em função do isolamento social.

Segundo levantamento da UNICEF, dos alunos brasileiros regularmente matriculados, mais de 4 milhões não conseguiram dar continuidade aos estudos em casa durante a pandemia. Ainda se estima que mais de 4,8 milhões de crianças e adolescentes não tenham acesso à internet em suas casas enquanto outras tantas dispõem de acesso muito precário.

Assim, muitos estudantes não tiveram condições básicas para manter suas atividades escolares, por não possuírem equipamentos eletrônicos ou terem acesso apenas a celulares de baixa qualidade, que os deixavam sem condições de acompanhar as videoaulas. Outros jovens ainda se viram forçados a ter que ajudar a família, em razão do desemprego dos pais, procurando alguma forma de trabalho para colaborar no sustento familiar.

Uma pesquisa do Datafolha mostrou que, dos alunos das redes públicas municipal e estadual que continuaram a acompanhar as aulas remotamente, a maioria encontra-se desmotivada, segundo a percepção dos pais ou responsáveis, que temem que os filhos acabem desistindo dos estudos, o que contribuiria ainda mais para o aumento da evasão escolar.

A realidade do estudo remoto sem a presença dos professores gera ansiedade e insegurança. A falta da interação social com outros alunos também é fator desestimulante.

Para os docentes, a realidade não foi mais fácil, já que muitos tiveram pouquíssimo tempo para se adaptar a diferentes métodos de ensino. Alguns professores conseguiram manter aulas ao vivo pela internet, outros tiveram que produzir vídeos gravados, com perda da interação. O fato é que a grande maioria dos professores não foi treinada para fazer uso intensivo de tecnologia no ensino. Assim, houve dificuldades para transmitir o conteúdo básico, com tentativas de uso de plataformas digitais ou mesmo por meio de material impresso.

Ao mesmo tempo que a reabertura das escolas é necessária, para que não se amplie ainda mais o fosso da falta de escolaridade, a retomada deve ser extremamente bem planejada, com adoção de protocolos sanitários rígidos, com uso de termômetros digitais, álcool em gel, sabonetes, máscaras e medidas de distanciamento entre os alunos entre si e os professores.

Em alguns países estrangeiros, o recomeço das atividades escolares ocorreu antes ou ao mesmo tempo que a reabertura das atividades comerciais, devido a um entendimento de que os danos às crianças e adolescentes podem se tornar irreparáveis.

Nesse contexto, grande número de professores apresenta-se reticente e apreensivo quanto ao retorno das aulas presenciais. Por isso é fundamental o treinamento de professores para os protocolos sanitários, a fim de que não se frustre a retomada com o aumento da contaminação. Também é necessário o diálogo com os pais, que deverão participar do processo de reinserção ao ambiente escolar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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