Pedra angular

Por José Faganello | 05/08/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“Uma pedra é uma pedra, e nada se ganha por chamá-la de um nome mais bonito”. (Tony Judt)

O historiador Tony Judt, em impressionante e elucidativa entrevista publicada no Caderno Mais da Folha de São Paulo, 10/01/2010, discorreu sobre sua doença motora neurológica (Ela) ou doença de Lou Gehrig.
Nela, o portador não sofre a perda da sensação e nem dor, portanto, o avanço catastrófico da própria degeneração é acompanhado lucidamente.

Aludiu ainda que houvesse um aprimoramento de sua memória, devido estar incapacitado de tomar notas. No entanto, consciente da fugacidade desse bem e, cético em relação aos incentivos bem-intencionados para procurar compensações não físicas, disse a frase inicial desse artigo.

É indiscutível que nem todas as metáforas são apropriadas, mas ele, usar depreciativamente a pedra, não me pareceu justo, pois ela carrega mais conotações positivas do que negativas.

A humanidade, em seu longo caminhar rumo à civilização, usou da pedra para criar suas primeiras ferramentas.

Foi na pedra que os homens das cavernas imortalizaram sua arte rupestre.

Por volta de 1700 A.C. Hamurabi mandou talhar em uma rocha de diorito, em 46 colunas de escrita cuneiforme acádia, com 281 leis em 3.600 linhas, numa peça de 2,5 m de altura, 1,60 m de circunferência na parte superior e 1,90 m na base, um dos mais antigos conjuntos de leis – O Código de Hamurabi.

O Decálogo (10 Mandamentos), segundo a Bíblia, foram 10 preceitos escritos em duas tabuas de pedra; e entregue a Moisés por seu Deus, no monte Sinai, como um pacto com seu povo.

Champollion pode decifrar os hieróglifos egípcios graças a Pedra de Roseta, um bloco de granito negro encontrado no Egito em 1799 por soldados do exército de Napoleão.

Desde a pré-história o homem utiliza objetos como adornos. Quanto mais incomuns mais valorizados são. Além do ouro e da prata, as pedras preciosas fascinam com seu brilho, sua cor, sua raridade, além dos poderes esotéricos a elas atribuídos.

A Pedra Angular das imensas construções medievais servia para dar o aprumamento exato das paredes e proporcionar um bem ajustado arremate aos lados do edifício. Ela significa ainda a perenidade.

Em Isaías, 28,16 há: “Por isso o senhor Deus lhe diz: Eu coloquei em Sião uma pedra, um bloco escolhido, uma pedra angular preciosa, de base, quem confiar nela não tropeçará”.

A verdadeira e mais preciosa pedra angular de uma civilização é a educação. Através dela deixaremos aos nossos filhos um inestimável tesouro: saberem lutar pela liberdade e pelo progresso.

Melhorar o sistema de ensino será a solução em longo prazo para acabar com o conformismo ante as injustiças sociais e diminuir o sofrimento físico e psicológico dos excluídos da sociedade de consumo, na qual é o ter que vale. Talvez consiga diminuir a busca de promessas esotéricas e de bem-aventuranças sem trabalho. Não faltarão pedras no caminho cabe sabermos usá-las bem, preferencialmente as angulares.

Até agora, não vislumbramos uma pedra angular para aprumar nosso país. Os que detêm o poder, na maioria não se importam com o bem do povo.

Esse clima de oposição x situação querendo ficar com o poder, no lugar de corrigir os defeitos admistrativos, não deixa acelerar a correção, assim como os três poderes se digladiando anuncia o marasmo, quando urge mudar rapidamente o que está ai.

A Comovirus, talvez vai fazer acharmos a Pedra Angular escondida até agora, sem ela o Brasil continuara saindo do prumo, até desabar de vês.
Infelizmente estamos pagando caro nossa sobrevivência, além de não vislumbrar uma reforma em nossa política, vivemos sem saber se no dia seguinte estaremos vivos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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