Corpo desnudo

Por José Faganello | 22/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Foram os gregos que nos legaram a filosofia, dando-nos pela primeira vez as ferramentas para chegarmos a uma concepção geral e racional do Universo e a da vida. Eles que nos brindaram, também, com suas incomparáveis obras teatrais, como “Édipo Rei”, “Electra”, “Orestes” etc. e sua arte monumental; afirmavam categóricos, que o Belo mais belo, mais digno de ser representado é um corpo humano perfeito.

A nudez, segundo a Bíblia, era o estado normal do Paraíso. O homem feliz, em estado de bem aventurança era nu. Os pintores do Renascimento retrataram anjos nus.

Os amantes, antes, muito antes de se tocarem com as mãos ou lábios, já se tocaram com os olhos. São os olhos que despem primeiramente a pessoa amada ou cobiçada.

Esse olhar devassador pode, é verdade, ter muitas facetas: - Ser o olhar do conquistador vulgar que apenas aspira dominação e o desfrute; outras vezes é o olhar de “voyer”, qual turista apressado que só quer fotografar, procurando, sofregamente, o maior número possível de belos corpos para despi-los com o olhar, sem a capacidade ou tempo para se deter em um e de fato, saboreá-lo, fundir-se com ele, enfim, amá-lo.

Há ainda os toques ocasionais, pura casualidade, sem a força da convergência, sem uma real descoberta, portanto, puro desperdício.

Despir, pela primeira vez, o corpo amado, é sentir o “frisson”, o calafrio, o deslumbramento inesquecível desse prelúdio. É como desembrulhar um presente, vagarosamente, desatando nó por nó, sopitando a ânsia da precipitação, para sentir o gozo deste lento desfolhar, inigualável, supremo.

É a mesma sensação de ver o mar pela primeira vez, aquela imensidão, aquele azul, aquele marulho, aquela emoção…

Talvez as antigas damas soubessem a emoção que sentiam seus pares a desnudá-las pela primeira vez, daí todas aquelas roupas… É verdade que hoje, diante da publica ostentação da nudez de nossas praias, piscinas, desfiles de carnaval e mesmo da moda, embora haja banalizado o nu, não eliminou a euforia, o prazer do ato: - dedos deslindando cordões, desatando botões, rompendo presilhas e os amantes se afogueando em beijos.

Despir um corpo pela primeira vez exige arte, arte sutil, a delicadeza do dedilhar de uma sinfonia, inesquecível, a inenarrável sinfonia do amor. O corpo, ao ser desnudado, não pode ter a sensação de perda e sim de ganho, não pode sofrer a ruptura, a quebra dos que não possuindo a calma, a mansidão de quem veio para usufruir o deslumbramento das primícias.

Esses sentimentos, com certeza, perpassam por qualquer um que possua o mínimo de sensibilidade.

O Belo deve ser exaltado, amado, enaltecido e não escondido, sufocado, tornando-se um tormento para as mentes jovens que querem e devem degustá-lo e são inoculadas com a ideia de que o Belo é um mal.

Se a beleza é fundamental, a nudez da beleza é extasiante.

Para ocupar o espaço cito alguns textos que tenho no meu caderno, citações recolhidas ao longo de minha vida: NU, “Ora , um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam”. (Cenese, 2,25).

“Nu sai do ventre de minha mãe, e nu voltarei; o Senhor o deu o senhor o tomou, bendito seja o nome do Senhor”.(JÓ, 1,21)

“ O que torna, pois, imoral não só o nu, mas toda a baderna que se arma, sensacionalista, fortemente cretinizante, em torno de questões como a pílula, a nudez, as relações sexuais mais variadas, é precisamente a comercialização de tudo isso” (Carlos Lacerda- 1914-1977 O Cão Negro).

“Uma mulher nua seria menos perigosa do que é uma saia habilmente exibida, que cobre tudo e, ao mesmo tempo, põe tudo à vista” (Balsac- 1799-1850), Os segredos da pricesa de Calimgman.

“Nudista pobre é a que não tem o que despir” Sofocleto- Silogismo.( 1926).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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