Ventos

Por José Faganello | 15/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“Não se cometa ao mar, quem teme o vento” (Shakespeare-Metastásio - ato I).

O vento é a deslocação do ar de uma região de alta pressão (mais fria) para uma de baixa (mais quente).

É um fenômeno que sempre intrigou o ser humano e serve de suporte para poetas, teatrólogos, romancistas e de curiosidade para a maioria das pessoas.

Quantos, ao sofrerem enorme perda, comparam-na a um vendaval que levou tudo, no entanto se alguém consegue recuperar o que perdeu dirá: bons ventos me devolveram o que perdi.

Cedo ou tarde aprenderemos que nesse encapelado oceano em que navegamos teremos ventos favoráveis e borrascas, no entanto, se tivermos firmeza no leme e destemor, venceremos as ondas, evitaremos os rochedos e, atentos para não perder um porto seguro, ficaremos a salvo.

Para os otimistas os ventos sempre sopram levando para longe os miasmas que nos rodeiam; já os pessimistas acham que ventos são portadores de destruição e de doenças vindas de outras plagas.

Há ventos terríveis, batizados com nomes aterradores: furacão, palavra de origem maia. Na mitologia dos maias, Huracan era o deus responsável pelas tempestades. Os espanhóis mantiveram Huracán e, em português tornou-se Furacão. Esse fenômeno costuma receber diversos nomes, além de furacão: tufão, ciclone, tornado e tempestade tropical.

Os ventos são de fundamental importância na dinâmica terrestre, pois são modeladores do relevo, transportam umidade dos oceanos para os continentes e amenizam o calor, entre outros fatores.

Bem-aventurados aqueles que habitam regiões bafejadas por brisas dia e noite. Brisa é uma deslocação de ar de fraca e moderada intensidade. Ela desloca-se próxima à superfície e afeta a atmosfera até por volta de 200 metros de altitude.

Aqueles que habitam na faixa litorânea são privilegiados, pois o Sol aquece o continente durante o dia mais rapidamente do que as águas do mar, criando uma zona de baixa pressão no continente que atrai o ar mais fresco do mar; durante a noite a terra se esfria mais rápido do que o mar, provocando a brisa do continente para o mar.

Castro Alves, em sua poesia Navio Negreiro, usou o vocábulo brisa em um dos mais belos trechos de seu poema: “Auriverde pendão de minha terra,/ Que a brisa do Brasil beija e balança,/ Estandarte que a luz do Sol encerra/ E as promessas divinas da esperança…/Tu que, da liberdade após a guerra,/Foste hasteado dos heróis na lança/ Antes te houvessem roto na batalha,/ Que servires a um povo de mortalha”!

Os ventos, como vimos, são inconstantes, assim como os acontecimentos que permeiam nossas vidas. O poeta romano Ovídio afirmou que é tolice queixar-se da inconstância do vento; portanto, ao longo de nossas vidas teremos hora ventos favoráveis, outras desfavoráveis; torçamos para nunca ter aquele vento que molesta o nosso ficar e ao mesmo tempo não nos deixa sair.

Assim como os marinheiros antigos eram obrigados a confiar nas velas de seus navios ao vento, nós não podemos mudar a direção de circunstanciais ventos ruins que a todos acometem, mas podemos ajustar nossas velas para, mesmo com muita luta, conseguir manter nosso leme em direção certa para alcançar o destino planejado.

Na mitologia grega Éolo era o deus dos ventos. Foi rei das ilhas vulcânicas, as quais tomaram os nomes de Eólias, atualmente Lipari. Ali viveu com seus seis filhos e seis filhas, que personificavam os ventos.

Na poesia é usado para significar fado, sorte, influência que ora favorece ora prejudica (vento da fortuna ou da desgraça).

No momento o Sul do Brasil está sofrendo borrascas terríveis e no geral o mundo todo está sendo atacado pelo coronavírus que é levado pelo vento e quem pega transmite para os outros. Até Quando?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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