Por que cresce o número de divórcios?

Por Francisco Ometto | 15/06/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Ontem foi o Dia dos Namorados e as redes sociais ficaram repletas de imagens de felicidade, sintonia e realização no amor. Sim, claro que isso existe, porém, precisamos ficar atentos pois, infelizmente, as estatísticas têm apontado em outra direção. No Brasil, por exemplo, um a cada três casamentos termina em divórcio e o que me preocupa não é só o número de separações em si, mas também como está a relação dos que se mantém juntos. Estão realmente felizes e realizados? Quanto à relação disso com a pandemia (conforme tem sido divulgado), na verdade, ela apenas está acirrando as causas que descrevo no artigo de hoje, as quais merecem uma reflexão diferenciada, tanto de quem está junto com alguém ou de quem está procurando alguém.

A maneira como o ser humano se relaciona afetivamente já é construída desde o início da sua vida e a tendência é repetirmos situações emocionais que vivemos no passado que, de alguma maneira, não foram totalmente resolvidas pelo nosso psíquico. Numa analogia ao aparelho digestivo, podemos dizer que, como uma comida “pesada” tende a voltar para ser digerida, o psíquico muitas vezes tende a reproduzir a mesma situação para “digeri-la” melhor e isso acontece em vários segmentos de nossa vida (não só nas relações afetivas), o que, não tratado, traz muito sofrimento.

Na maioria dos casos, inclusive, isso explica o fato de alguém buscar um companheiro desse ou daquele tipo.

Quando se procura alguém, é preciso priorizar o que realmente os manterá juntos, e não sintetizar as coisas na parte física, sexual, material ou em afinidades. Costumo dizer que, se uma relação não começa sustentada por amor, ela fará os dois ou um deles sofrer ou viver em um desastroso conflito e vale lembrar que amor de verdade, a gente vê pouco por aí, o que, por si só, já explica uma grande parte dessa tragédia. Quais os interesses de cada um, visão, personalidade, objetivos, caráter, enfim, o que realmente se partilhará com conteúdo e valor na relação? Pois são essas, e somente essas, as coisas que conseguirão manter uma relação viva e vivida com intensidade.

Os opostos podem até se atrair, mas são as semelhanças que manterão um casal unido e preparado para superar as dificuldades da relação, mesmo porque nem sempre o que nos atrai é o que precisamos. Na maioria das vezes tem ligação a alguma fantasia ou desejo temporário, estilo de vida, atração, interesses ou emoções que alimentam “aquela” fase. O que a pessoa está vendo no parceiro não é nada mais nada menos do que uma “criação” dela, uma projeção emocional com pouco foco na razão, mas não é bem o que aquela pessoa realmente é ou pode proporcionar a médio ou longo prazo e, então, os conflitos não demoram a aparecer.

Há ainda os casos em que se busca no outro a complementação do que não se tem (aí entraria o termo “opostos”), o que não é saudável, porque uma relação não pode ser estruturada em falhas ou diferenças, ou então em buscar no outro um acerto, uma correção ou uma complementação. Precisamos estar completos, realizados e de bem conosco mesmos para então colocarmos alguém (que deve estar nesta mesma situação) em nosso caminho. Relações devem nos “transbordar” e não nos “completar”.

Não busque paliativos e muito menos se agarre a “sensações momentâneas” ou aos “apelos e regras” distorcidas da sociedade. Seja mais você, busque se encontrar e ser feliz e que a sintonia seja na alma.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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