A prefeitura de Piracicaba acaba de voltar atrás na flexibilização do comércio, anunciando que vai restringir o horário de funcionamento das concessionárias, imobiliárias, escritórios e comércio, que agora atenderão ao público de segunda a sexta-feira das 13h às 17h e aos sábados, das 9h às 13h. O shopping abrirá de segunda a sábado, das 16h às 20h, sem funcionamento aos domingos. Assim, a prefeitura reduz a jornada das atividades comerciais para apenas 4 horas diárias. A nova regra começou a vigorar ontem, dia 6 de junho.
Anteriormente, no decreto municipal do dia 28 de maio, a prefeitura havia permitido horário de funcionamento mais amplo, com abertura do comércio das 9h às 17h, de segunda a sexta-feira, atendendo às solicitações de entidades representativas do comércio piracicabano.
A mudança gera incertezas e dificulta o planejamento das atividades empresariais, prejudicando tanto comerciantes como comerciários, pois ajustes já haviam sido feitos na carga horária de trabalho dos funcionários, nos acertos com fornecedores e na formação de estoques. A instabilidade com a mudança repentina das regras recém-anunciadas revela descaso com setores importantes da cidade.
Porém, as consequências práticas são ainda piores. Reduzindo o horário de funcionamento das atividades comerciais, a decisão da prefeitura contribui para a aglomeração de pessoas nas calçadas do comércio de rua e nos corredores do shopping, fazendo aumentar o afluxo de pessoas e as filas nas entradas das lojas. Comerciantes enfrentarão a difícil situação de perder clientes, já que, em razão da restrição de horário de funcionamento, não será possível atender bem a todas as pessoas que desejarem ingressar nos estabelecimentos, de forma a manter o distanciamento recomendado. Tudo isso, quando uma das datas mais importantes para o comércio, o dia dos namorados, se aproxima.
Assim, com a proibição das vendas no período matutino e a concentração do fluxo de consumidores no período vespertino, a medida tende a provocar efeitos contrários ao desejado no que se refere ao distanciamento social, além dos danos aos empregos que serão afetados. Enquanto recomenda que todos evitem aglomerações, a prefeitura toma novas decisões que contribuem para formar mais agrupamentos de pessoas na cidade. Em artigo no domingo passado, já comentamos os efeitos nefastos da decisão da prefeitura em relação à troca da prestadora do serviço de transporte público, com redução da frota de ônibus e crescimento da aglomeração de usuários em momento crítico da pandemia.
Coincidentemente, após tal aglomeração no transporte público, houve aumento considerável do número de infectados por covid-19 no município. Embora não haja estudo técnico para identificar a causa do maior espalhamento do vírus, não se pode descartar a hipótese de que esse tenha sido um dos principais fatores que contribuiu para o agravamento do contágio.
A fiscalização das regras de funcionamento das atividades comerciais pela prefeitura tem sido incipiente. Diferentemente de outras prefeituras do estado de São Paulo, a administração de Piracicaba não contratou “desaglomeradores” que auxiliem lojistas na organização das filas nas calçadas. Desse jeito, mais uma vez a prefeitura onera o setor comercial da cidade, fazendo com que comerciantes tenham que arcar sozinhos com os custos da organização das aglomerações que a própria prefeitura fomenta, com a redução da jornada diária do comércio local.