Gestão da crise do covid-19 em prol dos piracicabanos

Por Érica Gorga | 11/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Após reunião com representantes de classes patronais do Comércio, Serviços, da Indústria e Agronegócios piracicabanos, em 20/04, a prefeitura de Piracicaba decidiu que continuará endossando a quarentena determinada pelo governo do Estado. Piracicaba tem hoje cerca de 92,4% dos seus leitos disponíveis para o tratamento de infectados por covid-19 e, apesar dessas condições hospitalares adequadas, a prefeitura não se dispôs a procurar formas para evitar o aumento do desemprego e da pobreza na cidade. A prefeitura explicou, por meio do seu Secretário de Saúde, que os leitos disponíveis serão ocupados por doentes de covid-19 transferidos da cidade de São Paulo.

Entretanto, a transferência de pacientes infectados por coronavírus para o interior vai contra a própria lógica da quarentena e isolamento decretados pelo governo estadual e endossados pela prefeitura de Piracicaba. Com a transferência desses pacientes, aumenta o risco de contaminação por coronavírus em hospitais piracicabanos que têm hoje a situação de contágio absolutamente sob controle. A transferência significa que médicos, enfermeiros e equipes de saúde piracicabanos terão mais chances de se infectarem, o que pode gerar efeitos muito prejudiciais: as equipes de saúde não terão condições de continuar a prestar serviços de atendimento para todos os doentes da cidade e região, e, além disso, o vírus poderá ser disseminado com maior perigo para toda a população.

A inação da prefeitura e a falta de defesa dos interesses dos piracicabanos perante o governo do Estado revelam a falta de decisões coerentes de gestão da crise. Se as transferências de infectados para o município ocorrerem, as autoridades políticas estarão contrariando seus próprios decretos e recomendações.

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, pediu para o governo do Estado que a rede campineira seja preservada. Posicionou-se contrariamente às transferências, manifestando preocupação com a falta de capacidade de hospitais da cidade para atender os transferidos e com a circulação de familiares potencialmente infectados, mas assintomáticos que viriam para Campinas. “Não dava para a gente fazer esse recebimento com pena de colocarmos a perder o trabalho que fizemos de aumento dos leitos, de preservar leitos,” afirmou o prefeito campineiro em entrevista ao jornal Estado de São Paulo em 5/5.

Espera-se que a prefeitura de Piracicaba também pense em estratégias de gestão e solidariedade que não comprometam os esforços e até sacrifícios realizados pelos piracicabanos. Mantendo o tradicional espírito de união e solidariedade do povo piracicabano, Piracicaba poderia se dispor a receber outros doentes não infectados por covid-19 que estão em tratamento intensivo, contribuindo, assim, para liberar vagas de UTI para os doentes de coronavírus na capital, que é o epicentro da doença no estado de São Paulo. Além disso, é sabido que as autoridades podem requisitar vagas de hospitais privados na própria capital.

Não se pode tomar decisões que contribuam para agravar a situação da pandemia, gerando novos epicentros de contágio, pois, no médio prazo, com o aumento da contaminação, a rede de atendimento hospitalar de Piracicaba, que hoje está disponível, também entraria em colapso. As decisões das autoridades políticas devem ser sempre tomadas com vistas ao médio e longo prazos e pensando no bem-estar e saúde de toda a população piracicabana.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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