Relacionamentos, conflitos e o egocentrismo

Por Ana Pascoalete |
| Tempo de leitura: 3 min

Para falar de relacionamento familiar, amoroso, amizade, é necessário pensar em movimento de troca, com a fluidez de uma boa comunicação e interação entre os indivíduos envolvidos e, ainda, com um bom vinculo construído.

As relações são constituídas quando pessoas se conhecem com a mesma disponibilidade, dedicação e interesse que contemplam as partes. Ainda para uma relação saudável é necessário empatia e também egoísmo em medidas adequadas, doando-se na relação com o próximo e se voltando para si nos momentos adequados, para contemplar a própria individualidade.

Para um relacionamento de sucesso é necessário estar atento em não manter-se muito longe ou muito no espaço de ambos, encontrando o equilíbrio, pois se não houver alguns cuidados, pode ocorrer o abuso desse espaço na relação de não pertencimento e, assim, diminuir o outro em sua vida ou vice-versa.

O direcionamento e atenção é necessária para que não aconteça uma atitude inversa, pois quando limitamos demasiadamente a aproximação do outro e/ou quando invadimos o tempo todo as ideias e espaço alheio, podemos gerar uma relação conflituosa, e intensificar na própria personalidade o egocêntrico, estimulando demais o egoísmo ou amor-próprio, destoando demasiadamente da ideia de relação saudável.

Uma pessoa egoísta não necessariamente é uma pessoa ruim, que não gosta de ninguém e não queira os demais bem, porém esse perfil de individuo apresenta dificuldade em perceber os demais, pois a necessidade em atender o próprio ego faz com que seja limitado o espaço para o outro existir na relação.

Esses perfis de indivíduos tendem a falar muito de si, suas atividades, profissão, viagens, descobertas, demonstrando com muita intensidade o seu eu, inclusive constantemente interrompendo a fala dos demais para mudar de assunto que possam evidenciar a si, gerando relações bem conflituosas.

Não é muito fácil a convivência por muito tempo com indivíduos muito egocêntricos, por mais carinho e amor que tenhamos por pessoas com essas características, elas não nos permite muito espaço para a convivência em conjunto, pois não estão abertas a trocar ou interagir, restringindo o interesse para si, e não para o conteúdo de interesses dos demais.

Vale apontar que para um bom relacionamento ser construído é necessário existir duas partes caminhando, interagindo, sentindo-se acolhida, amparada e desejada. Quando somente uma parte beneficia-se, ou fala, ou acredita que está com a razão, é muito provável que esteja invadindo o espaço do outro, diminuindo sua existência.

Uma das estratégias na tentativa de resolver essa situação é conversar a respeito e amenizar as relações conflituosas, usando de delicadeza, sem agressão, demonstrando que o outro precisa rever suas atitudes. Isso é fundamental para que a relação possa ter chances de sobreviver.

Não existe garantia que a pessoa egocêntrica estará aberta para reflexões e mudanças imediatas, e a outra parte envolvida provavelmente estará muito desgastada e incomodada com as situações repetidas. Será necessário muito tato e ajuda de psicoterapia para descobrir novas possibilidades, e ainda somente será possível se ambas as partes estiveram dispostas a lutarem para o relacionamento sobreviver.

As pessoas egocêntricas, ou que vivem com as mesmas, podem construir na relação um carinho verdadeiro entre as partes, mas o movimento do egoísmo demasiado enfraquece um lado e a relação fica desequilibrada. Vale abordar a curiosidade, de que todas as pessoas, todos nós, somos egoístas, e isso não precisa ser uma problemática, afinal possuímos um ego que representa a nossa existência e individualismo enquanto seres humanos, que são características essenciais para nossa existência, pois ter em si o egoísmo é ter a ciência sobre si, as particularidades para garantir o próprio eu, podendo estar aberto para ver, ouvir, receber o outro em sua vida sem sacrificar sua existência, enquanto que ser egoísta é colocar-se acima, ou a frente dos demais e somente enxergar a si como necessidade prioritária.

Se conseguirmos saber quem somos, qual nosso espaço, nossos limites e desejos, provavelmente encontraremos um equilíbrio e não permitiremos que o egoísmo desmedido das demais pessoas nos invadam, atravessando a harmonia em construir relacionamentos nas diversas áreas da nossa vida.

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