A adaptação hedônica do exercício

Por Rogério Cardoso | 10/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Fui criado pelos meus avós no Rio de Janeiro e uma das minhas “obrigações” que eu tinha na criação deles era de tirar notas boas e praticar alguma atividade física. Escolhi na época a natação no Botafogo Futebol e Regatas, uma piscina linda na qual você vê a enseada da praia de Botafogo. Naquela época, aquele ditado quanto mais melhor era regra e os exercícios eram sempre realizados ao extremo. Tínhamos que nadar com 14 anos de idade cerca de 6 km na piscina, as vezes de manhã antes de ir para escola e após a escola. Com o tempo isso foi se tornando uma penitência e foi ficando um tédio fazer isso. Fui gradativamente associando o exercício como uma forma de punição e com isso fui mudando o foco para o triathlon e depois na faculdade para a corrida de aventura.

Durante minha graduação, algo mudou. Descobri que o exercício poderia ser tão hedônico quanto qualquer outra indulgencia. Era somente uma questão de reformular o objetivo. O foco não deveria ser somente emagrecer ou ficar com o corpo lindo, magro ou o que quer que seja mas sim, ter a sensação de prazer gerada pelos neurotransmissores após o exercício ou de uma boa noite de sono gerada pela atividade física, ou ainda aquelas sensações diferentes e difusas que quem pratica as tem. O exercício era o meu momento, onde eu não devia nada para ninguém e aquelas dorzinhas podiam ser meu prazer secreto para a mudança que me permitia fazer através de sua prática diária. O brincar para mim deveria ser inserido neste contexto e por isso a corrida se tornou o fenômeno que é no mundo, pois para alguns ela representa um jogo e pode se tornar competitiva e para outros um brincar com seu corpo, se permitindo o autoconhecimento transpondo as próprias percepções de suas capacidades físicas. Escolhi então a corrida para trabalhar isso!

Atualmente beirando os 40 anos realizo todos os dias uma hora de atividade física. Seja corrida, ciclismo, uma aula de treinamento funcional ou nadar, o importante é o prazer de agir, de pensar em mim e de transcender através do exercício. O prazer está no caminho e não na chegada. O corpo é capaz de registrar tudo e a memória do corpo é a nossa memória mais arcaica. O exercício permite o registro de sensações vividas em nosso corpo através das mais variadas experiências. Por isso correr é uma experiência marcante para muitos. Durante o exercício meu corpo se expande, a adrenalina e serotonina são liberadas, ele se perde, as vezes fica sem peso. Mas quando eu paro, sinto aquela sensação de prazer cumprido, sentindo o sangue pulsando em meu corpo, me desligando do mundo e dos problemas, como uma grande terapia, fazendo deste momento uma dedicação ao prazer como estio de vida através da atividade física, mostrando que as escolhas e limites são finalmente meus.

O exercicio não precisa ser duro, chato, sem prazer ou o pior momento do seu dia. Talvez seja a hora de mudar a forma como o enxerga. Ache uma coisa que te proporcione este prazer. Esse é o caminho.

Até a próxima!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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