A utopia do heroísmo

Por Francisco Ometto | 29/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Você pode não notar, mas estamos todo o tempo cercados por heróis e heroínas e a mídia ajuda neste processo, distribuindo à população os chamados “heróis” do dia a dia, seja em um participante de reality show, em alguém com um corpo escultural e rosto atraente, em políticos com forte poder de persuasão, em jogadores de futebol que recebem milhões em dinheiro para exibir a marca do patrocinador e influenciar com seus valores, em cantores, em adolescentes que “ditam” as regras nas plataformas digitais, em filmes que fazem as pessoas acreditarem que “aquela” é a solução para suas vidas. Aliás, quem disse que o que acontece em filmes ou livros é o retrato da vida real, ou melhor, da sua vida real? Quem disse que aquela frase persuasiva de alguém é o que você realmente “precisa”?

Enquanto muitos se escondem de si mesmos usando uma ideologia, paradoxal e paralelamente fazem suas vidas se tornarem cada vez mais desinteressantes e mortas. As estatísticas falam por si só.

O desejo “reprimido” de ser livre e superar cobranças da sociedade e de si próprio (por falta de conteúdo e autoconhecimento) encontra neste utópico mundo de “super-heróis” a complementação ilusória do vazio. Neste círculo vicioso e perigoso de rompimento com a realidade e consigo próprio, as pessoas avançam limites. Nasce aí o potencial “libertador” que dá aval e explicação para a busca desenfreada pelos “heróis”, ao se manifestar o desejo reprimido de liberdade.

Vamos além? Será que os diversos tipos de “heróis” escolhidos pela humanidade hoje se preocupam com seus admiradores? Triste também ver que muitos dão mais valor a esses falsos heróis do que aos próprios filhos, pais, emprego, família, casamento, relacionamento, estudo; jogando tudo a “segundo plano”.

Os verdadeiros heróis são os pais que praticamente dão a vida pelo sucesso de seus filhos. Heróis levantam cedo para o trabalho digno e honesto, infelizmente quase sempre recebendo muito menos do que merecem. Heróis reais se vestem de farda para garantirem segurança e ordem pública. Outros vestem toga e lutam pela justiça, ainda que em troca disso corram o risco de colocarem suas cabeças a prêmio. Heróis verdadeiros estão nas salas de aulas para transmitir o conhecimento intelectual e moral, mesmo que para tanto tenham que se sujeitar a grosseria e a indisciplina de seus alunos, e, ao fim do mês, sentirem vontade de chorar ao verem seus holerites. Outros heróis se vestem de branco e trabalham em postos de saúde precários, sem o mínimo de condições de trabalho, pois as autoridades não se preocupam muito com esse assunto. Nossos heróis de verdade estão na direção de Igrejas e Instituições realmente comprometidas com o bem-estar social, com a paz, a verdade, a ajuda física e espiritual aos necessitados, com a coerência entre pregar e praticar o que se prega; além de tantos heróis anônimos, dos quais sequer nos lembramos no nosso dia a dia…

Verdadeiros heróis, descompromissados de vaidade e de orgulho, sem nenhum interesse em aparecer na mídia ou enriquecer financeiramente.

“Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.” (Roberto Shinyashiki)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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