Para não perder a ternura

Por Marisa Bueloni | 25/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Às vezes, o coração deseja não estar na realidade da vida. Ele quer fugir um pouco do cotidiano massacrante das maldades transmitidas pelo apresentador incansável nas suas horas do programa vespertino. Lá está ele, noticiando sobre as enchentes da pobre e rica Capital, os crimes, a violência que impera nos dias de hoje. Há quem deteste, há quem não perca.

Tento não perder nada, nem uma só vírgula do que leio, para estar a postos. Sempre de vigia, sentinela das coisas invisíveis como costumo dizer, pois das visíveis já somos guardiões. Guardamos também no peito coisas como honra e dignidade, beleza, caráter, nobreza de alma, retidão, buscando viver a reta intenção. “Vigiai e orai sem cessar”.

Não quero perder a ternura, por mais dor tenha sentido nestes tempos. Por mais que a decepção e a amargura nos marquem, tenhamos no coração a chama do perdão e da esperança. Por mais difícil seja nossa luta no lugar onde estamos, ó, que Deus nos guarde! Não canso de pedir aos anjos e santos que nos cerquem com sua presença divinal.

Sem perder a ternura, tento um poema. Sem perder a ternura, faço a cama benfazeja onde repouso meu corpo cansado no final de um dia cheio. Lençóis recém-dobrados, guardados com zelo e carinho na gaveta da cômoda que é só deles. Nada se mistura com a sagrada roupa de cama e esta sacralidade envolve nossos sentidos quando dormimos e sonhamos.

Nosso quarto amado! O quadro maravilhoso de Jesus da Divina Misericórdia, conforme o Mestre apareceu à Sua secretária, a santa irmã Faustina Kowalska, da Polônia. Ali está o pôster emoldurado na parede, bem visível e ao qual me dirijo nos momentos de angústia e aflição. Quando preciso deixar minha casa, aos prantos, por não mais suportar latidos. A dona da cachorra se ausenta e ouço latidos por horas seguidas. São 7 anos neste tormento! Recorro à santa imagem do Senhor da Misericórdia, pedindo clemência, quando meu coração dispara, quando sinto náuseas e o herpes ameaça sair nos meus lábios, de tanto estresse e sofrimento.

Em algumas inevitáveis contendas, fui chamada de “louca”, “doente” e “retardada”. Sofri injúria, calúnia e difamação. A dona do cão, aos gritos, na rua, às 11 da noite, dizia “vai se internar”. De tudo isso, tenho inúmeros Boletins de Ocorrência e testemunhas, vizinhos que presenciaram estas lamentáveis cenas. Dentro de um condomínio de casas, onde há regras, onde há um Estatuto que proíbe perturbar a vizinhança.

Onde está a ternura e a paz, Senhor? Onde a convivência pacífica, o respeito e a consideração pelo próximo, educação, gentileza e cordialidade? É preciso sair da própria casa, em busca de silêncio e de paz! Sei de pessoas que se mudaram de seus apartamentos por não suportarem os ruídos do andar superior. Venderam sua residência por causa de vizinhos barulhentos, o som alto do rádio, os gritos e algazarras.

Ah, o mundo carece de gentilezas e de ternuras. Mas conhecemos, por experiência mística, as delicadezas de Deus. Vivemos, sim, momentos de sublime enlevo e êxtase, na companhia de uma beleza inenarrável. E por causa disso, confiamos na providência amorosa do Pai Criador do céu e da terra.

Estou em busca do silêncio e da paz. Da ternura que ainda possa existir. Talvez ela esteja à minha procura também? (…)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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