Reinado de Momo

Por José Faganello | 12/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“O carnaval entre nós deixa de ser… a festa pagã que o cristianismo não estragou de todo e em que resta alguma vivacidade e algumas alegrias dionisíacas para ser mais do que tudo isso: uma tradição venerável, uma festividade adorada, um hábito da sociedade que tem significação de um desafogo na existência ávida do brasileiro, que vive sem dinheiro, sem orgulho, sem heroísmo, sem coisa nenhuma”. (Gilberto Amado 1887-1969, A Chave de Salomão).

Em termos de duração, o carnaval é o maior período de festas disponíveis em nosso calendário. Não se esquecer daqueles que, para ele, começam a se preparar desde as vésperas do Natal, retornando ao trabalho após o carnaval, muitas vezes na segunda-feira seguinte à quarta-feira de cinzas.

Os festejos momescos oferecem a oportunidade esperada para uma exacerbação no uso de bebidas, na prática da luxúria em todas suas nuances. Há noivos e casados que buscam conseguir seu alvará, para cair na folia, citando Paulo Apóstolo, em epístola aos romanos, 12,15, “Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram”. Necessitamos de festas de confraternizações coletivas.

O carnaval, incluído no calendário de festas nacionais, arraigou-se em nossa cultura a ponto de, assim como o futebol, ser considerado o maior espetáculo da terra, quer em número de participantes, como no esplendor de seus desfiles. Tanto o carnaval carioca, como o paulistano que não ficar atrás; transformaram-se em gigantescos espetáculos, cada vez mais sofisticado, mas com o senão, de excluir de sua participação ativa, grande parte da massa popular, sem condições de competirem com os mais endinheirados.

No carnaval de Recife e de Salvador predomina a participação popular, com coreografias coletivas e, ao mesmo tempo, pessoais das ondas humanas deslocando-se atrás dos trios elétricos.

Há, fora do Brasil, carnavais famosos como os de Paris, Veneza, Munique, Roma, Nápoles, Florença Montevidéu e Buenos Aires; nenhum deles rivaliza com o nosso. No Brasil Colonial havia festanças acompanhadas de brincadeiras grosseiras.

Foi no Rio de Janeiro, a partir de 1930, que o carnaval começou apresentar uma feição civilizada, tornando-se aos poucos uma atração internacional. Seus grupos de ranchos carnavalescos e de escolas de samba aprimoraram-se, até chegarem ao que assistimos atualmente.

Em muitas cidades, o carnaval de rua, genuinamente popular, cedeu lugar para os bailes nos clubes sociais. Nestes últimos anos, no entanto, na maioria destes carnavais de salão, não se vê a animação de outrora. Os foliões, antes animados por marchinhas, de todos conhecidas, como: Eu Linda Morena, Fita Amarela, Cidade Maravilhosa, As Lágrimas Vão Rolar, Não Tenho Lágrimas, Jardineira, Aurora, Barracão. e outras.

Seja como for, tanto aqueles que concordam com o Eclesiastes de que há tempo para tudo e afirmam que o carnaval é tempo para beber, dançar e amar, como aqueles que necessitam de um desafogo, para as mágoas causadas pelas mazelas nacionais, com os ‘mensalões’, desvios bilionários de verbas públicas, nepotismo, impunidades indefensáveis, devem aproveitar o conselho de São Paulo “alegrar-se com os que se alegram” e deixar para quarta-feira de cinzas para chorar com os que choram e, talvez, ter de implorar: “Ei! Você aí, me dê um dinheiro aí”; para quitar as contas das esbórnias.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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