A dor de quem decide pela separação

Por Luiz Xavier | 06/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Hoje apresento a vocês uma reflexão da psicoterapeuta holística Celia Limah sobre separação de parceiros sexo-afetivos. Acompanhem:

“Quem opta pelo fim da relação vive o luto antes mesmo do término: Tendemos sempre a achar que quem ‘é deixado’ é a grande vítima num relacionamento. O que ocorre é que quem é deixado está numa situação completamente passiva e é obrigado a lidar com todo o sentimento de impotência. Não há o que fazer. Como lutar contra uma certeza do parceiro? Quem fica é arrebatado por um sentimento de traição, mesmo sem ter havido ‘traição’, propriamente. Quem fica se sente à deriva, abandonado, rejeitado, desamado… sem chão. Às vezes, dependendo do despreparo ou da surpresa com a notícia, tem-se o impulso de fazer malabarismos para que o outro volte atrás.

Existe vilão e vítima? Comete-se o engano de acreditar que quem saiu da relação ‘está numa boa’. Este é visto como o vilão da história, aquele que provoca o sofrimento. Mas não é bem assim que acontece…

Numa relação estável, que começou com a intenção de que fosse o mais duradoura possível, é claro que ambos caminham na direção de solidificar o casal. Espera-se que o amor seja para todo o sempre e por mais que se fique atento à evolução do relacionamento, o amor, o tesão, o interesse por perpetuar o vínculo pode acabar de um dos lados. Às vezes acontece de ambos irem perdendo o interesse gradualmente e quase ao mesmo tempo.

Quem deixou de amar também se frustra. Quem deixou de amar não gostaria de ter deixado de amar, mas não se trata de uma decisão, isso simplesmente acontece. Ele vasculha dentro de si por longo tempo para reencontrar o desejo, a paixão dos primeiros tempos, mas nada encontra. Vive um grande conflito e entra em estado de luto.

Culpa e frustração: Quem deixou de amar também perdeu um amor e passa um longo tempo muitas vezes se culpando, antevendo a dor de seu parceiro, desejando evitar que ele se magoe. E muitas vezes, na tentativa de negar que os sentimentos apenas se esvaíram, na crença de que é preciso haver um motivo mais contundente para a separação, que não basta que o amor e o desejo tenham se esgotado, cometem-se equívocos.

Cuidado para não tornar a separação desnecessariamente mais dolorida do que naturalmente é, evitando as seguintes situações:
• Provocar discussões estéreis
• Buscar uma proximidade forçada para ‘disfarçar’ seus reais sentimentos e intenções
• Desprezar seu parceiro ou tratá-lo com indiferença, imaginando que assim fará com que ele também deixe de lhe amar, facilitando sua decisão.

Ninguém acorda pela manhã com a descoberta de que deseja se separar. Isso é um processo, vamos nos percebendo aos poucos. Quem passa por essa experiência se submete a um recolhimento reflexivo aflitivo porque muitas vezes não consegue aceitar facilmente a realidade de seus sentimentos. E até que perceba a impossibilidade da continuidade da convivência, vai-se vivendo o luto da perda de um amor, dos planos, dos projetos em comum.

É um engano acreditar que quem deseja se separar ‘está numa boa’. A diferença entre quem sai e quem fica é que quem sai vive o luto antes da efetivação da separação. E acrescente-se aí toda a coragem necessária para comunicar ao parceiro e administrar com equilíbrio os desdobramentos dessa decisão.

Quando um dos dois lados chega a comunicar essa decisão, isso já foi longamente maturado – e sofrido. Cada qual à sua forma e nos seus tempos vive a dor da perda.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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