Não ao preconceito na Cultura

Por Érica Gorga | 02/02/2020 | Tempo de leitura: 2 min

Nesta semana, Regina Duarte aceitou assumir o comando da Secretaria Especial da Cultura, a convite do presidente Jair Bolsonaro. A notícia viralizou nas redes sociais e a artista tornou-se alvo imediato de críticas maldosas e agressivas proferidas até mesmo por colegas da sua própria classe artística.

A hostilidade e o preconceito encontram-se tão generalizados que a atriz Maitê Proença chegou a afirmar que muita gente da classe apoia a Regina Duarte, mas não tem coragem de vir a público”.

A declaração resume bem o ambiente atual de cerceamento da liberdade de expressão e de escolha. Não é porque seu antecessor foi demitido por fazer uso de frases supostamente retiradas do pronunciamento de um ministro de Hitler da Alemanha nazista, que o próximo ocupante da pasta tenha que ser recebido com tanta hostilidade, sem ter nada a ver com o pato.

Ora, qualquer pessoa tem o direito de aceitar um convite profissional que lhe interesse, seja na iniciativa privada ou na esfera pública. O direito de liberdade de escolha individual não deveria ser tolhido pelos próprios artistas que pregam exatamente a liberdade de expressão e de atuação na sua profissão.

E como consequência natural da liberdade de escolha, não se pode macular o direito individual de um adulto de decidir apoiar ou fazer parte desse ou daquele governo.

Regina Duarte é uma das atrizes mais respeitadas do país. Tem trajetória singular e brilhante como profissional da interpretação artística. Pode-se até questionar se terá a mesma competência ao exercer um cargo administrativo na esfera pública. Entretanto, não é adequado emitir julgamento de reprovação precipitado, antes que ela tenha tempo adequado para trabalhar e mostrar os frutos do seu esforço.

Muitos brasileiros parecem agora adotar o lema de vida “si hay gobierno, soy contra”. Assim, parecem ser contrários a tudo que se refira e a todos que se liguem ao governo atual. É a “arte” de ser “do contra” por princípio.

Enquanto a crítica às decisões do governo e, especificamente, a quem nos governa seja plenamente salutar num ambiente democrático, a democracia também pressupõe aceitar a legitimidade de um governo eleito pela maioria do voto popular. Aceitar que esse governo receba apoio de muitos brasileiros. E aceitar que tome decisões diferentes daquelas dos governos anteriores. Ainda que tais decisões sejam oportuna e adequadamente criticadas.

A crítica porém não pode chegar ao ponto de paralisar qualquer iniciativa ou tentativa de mudança. Não pode chegar ao ponto de se tornar puro preconceito contra tudo e contra todos.

É preciso colocar o país e a cultura acima do preconceito, a fim de que seja possível a implementação de políticas públicas eficazes que contribuam para o desenvolvimento cultural do país. O Brasil carece de maior cooperação entre os diversos agentes da indústria cultural. É papel da Secretaria liderar esta empreitada, promovendo o debate profícuo e ações construtivas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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