A ampla divulgação do vídeo em que a ativista carioca Sininho faz a defesa do então “black bloc” Eduardo Fauzi, filiado ao PSL e hoje foragido, suspeito do atentado com coquetéis molotov à produtora Porta dos Fundos, é indício eloquente de que houve uma orquestração de extrema direita por trás dos movimentos ocorridos em 2013, mesmo aqueles nos quais muitos viam motivações “legítimas” e “progressistas”.
Lamentavelmente, muitos desses movimentos foram à época apoiados por grupos de esquerda com interesses antagônicos ao governo democrático-popular da presidente Dilma. Outras lideranças também demoraram um pouco a perceber potencial destruidor daqueles movimentos contra as instituições democráticas.
Já em 2013, em meio aos acontecimentos que sacudiram o nosso país a partir das manifestações que ocorreram em São Paulo sob a bandeira da luta contra a reajuste das tarifas do transporte público (“não é só pelos 20 centavos”) a Apeoesp fez uma análise crítica desde o primeiro momento.
Nossa posição se baseava na incomum intransigência que o movimento apresentava e na forma como atacava as organizações sindicais e movimentos sociais, pregando um suposto “horizontalismo” pretensamente sem lideranças.
Em pouco tempo, após a revogação do reajuste das passagens, uma nova leva de manifestações apresentou um perfil claramente de direita, atacando o governo da presidente Dilma Rousseff e apresentando um rol de “reivindicações” amplo e difuso o suficiente para atrair todo e qualquer segmento descontente da sociedade.
Esse movimento de contestação “a tudo o que está aí” semeou o clima que criou as condições políticas e sociais para que Aécio Neves pudesse contestar os resultados da eleição presidencial de 2014, fato que levou ao golpe que retirou ilegalmente a presidente Dilma do Governo em 2016. Como todos sabemos, o golpe de 2016 pavimentou o caminho para a prisão igualmente ilegal do presidente Lula e para a eleição de Jair Bolsonaro. Também criou o caldo de cultura para o discurso anti-política que dá o tom para a eleição de ativistas de direita, “outsiders” como Doria, os quadros projetados pelo Partido Novo e, em certo sentido, do próprio Jair Bolsonaro.
Já em 2013, no Jornal da Apeoesp, publicamos uma análise que discordava de uma visão positiva que determinados grupos vinham divulgando, referindo-se aos acontecimentos daquele ano como “jornadas de junho”. Já nos colocávamos em alerta para a possibilidade de novos ataques à democracia e à organização da classe trabalhadora. Infelizmente os fatos posteriores confirmaram nossos temores e nós estivemos sempre nas ruas para defender a democracia, a nossa organização e, face ao golpe que se avizinhava, para defender o mandato legítimo da presidente Dilma Rousseff.
Durante nossa histórica greve de 92 dias em 2015, ocupamos as ruas de forma permanente, incluindo em nosso discurso a defesa da democracia (ainda que isso desagradasse à época alguns grupos). Durante todo o período enfrentamos provocações de black blocs, cujo intuito era atrair a repressão policial e tumultuar o movimento.
Hoje, decorridos mais de seis anos, é importante que cada vez mais amplos setores da esquerda e da sociedade também passem a compreender que a evolução dos acontecimentos a partir de 2013 nada teve de fortuita. Especula-se que desde o primeiro momento houve direcionamento e infiltração norte-americana.
Examinar a história com distanciamento nos ajuda a aprender com ela e a evitar a repetição de equívocos que podem custar muito caro. Vamos em frente, porque a luta é dura e grandes são os nossos desafios.