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Amber Heard vs Johnny Depp: uma batalha sem vencedores

A noção de que uma mulher pode estar errada, transforma as outras em cúmplices.

Por Thais Perez | 03/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Relação tóxica.
Relação tóxica.

Na última quinta-feira, Johnny Depp foi aplaudido pela plateia em um show do artista Beck. Ele se juntou ao artista logo depois do anúncio do veredito do julgamento que monopolizou a opinião pública nas últimas semanas, contra sua ex-mulher e também atriz Amber Heard.
Em um julgamento mútuo sofre difamação, o resultado foi que atriz deveria pagar US$ 10,35 milhões. Já Johnny Depp deve pagar à ex-mulher US$ 2 milhões.
O fruto dos processos são uma série de abusos cometidos entre ambos em uma relação extremamente tóxica. O que culminou na judicialização do caso foi um artigo publicado no jornal Washington Post, em que Amber relatou diversos abusos cometidos pelo ex-marido, sem citá-lo nominalmente.
O caso ganhou holofotes principalmente pela popularidade de ambos os atores, mas também pela curiosidade do público, que se alimenta de dramas. Mesmo sem refletir sobre as provas apresentadas por ambos, informações incompletas ou mal interpretadas foram combustível para condenar Amber Heard antes mesmo o veredicto final.
No julgamento feito no Reino Unido em 2019 do mesmo caso, Amber Heard teve suas acusações reconhecidas. Em novembro, o juiz Andrew Nicol determinou que Depp agrediu violentamente a ex-mulher. Na ocasião, Ela detalhou 14 ocasiões de violência extrema em que o ator a sufocou, esmurrou, estapeou, cabeceou, estrangulou e chutou. Nicol aceitou 12 destes relatos como verdadeiros.
Mesmo julgado e sem oportunidades para recursos, o caso de Amber Heard não teve nem metade da repercussão de ganhou recentemente em 2019.
À portas fechadas, a corte britânica decidiu que através de provas reunidas por Amber, que Depp teve responsabilidade em situações de extrema violência em momentos em que estava alcoolizado e drogado e que também tinha um comportamento controlador durante sua relação com Amber.
Apesar de Amber ter apresentado provas, Depp manteve a posição de que nunca agrediu a ex-esposa, enquanto ela admite que já teve ímpetos violentos contra o ator, que alega que Amber jogou uma garrafa de vinho dele, o que o fez perder o pedaço de um dedo.
A diferença entre os dois julgamentos está em seu modelo. Nos Estados Unidos, sete pessoas fizeram parte de um júri, já no Reino Unido, a descisão foi tomada por apenas um juiz. A defesa de Johnny Depp escolheu o palco perfeito para inflamar toda e qualquer discussão sobre o caso, transformando formalidades jurídicas em entretenimento.


OPINIÃO PÚBLICA.
O julgamento terminado nesta semana não foi somente um marco jurídico, mas também midiático. Filmado e transmitido em sua integralidade durante os dias que durou, o caso foi exaustivamente comentado não só nos noticiários, mas também nas redes sociais. No tiktok, mais de 18 milhões de vídeos estão sob a hashtag "Justiça por Johnny Deep".
De acordo com a BBC, A Cyabra, uma empresa israelense que rastreia desinformação online verificou que quase 11% da discussão online em torno do julgamento foi conduzida por contas falsas.
O maior prejuízo para a sociedade é que através da vitória de Depp se forma uma atmosfera prejudicial para mulheres que sofrem de violência doméstica. Este perigoso precedente pode fazer com que as palavras dessas mulheres sejam questionadas antes mesmo que haja uma denúncia. Para quem pensa dessa maneira, a noção de que uma mulher pode estar errada, transforma as outras em cúmplices.

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